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Festas e distúrbios deixam moradores no Fogueteiro ‘à beira de um ataque de nervos’

O Bairro de Vale de Chícharos pode não ser conhecido de todos, mas se falarmos em Bairro da Jamaika, como é tratado pelos moradores, de certeza que o leitor irá identificar.

Trata-se de um bairro de origem clandestina, no centro da freguesia de Amora, concelho do Seixal, que nos últimos tem sido falado na comunicação social pelos projectos de realojamento assumidos pela autarquia, mas também por algumas questões ligadas à violência.

No passado fim-de-semana, o bairro voltou a ser notícia depois de um tiroteio do qual resultaram dois feridos, um deles ‘abandonado’ à porta das Urgências do Hospital Garcia de Orta.

Na génese destes acontecimentos estão vários bares ilegais que funcionam naquele local, e que em Maio de 2020 chegaram a ser encerrados pelas autoridades de saúde.

No entanto, segundo os moradores contaram ao Diário do Distrito, após esse encerramento, e mesmo em pleno período de pandemia e de regras de confinamento, as festas, o barulho e os distúrbios continuam.

Dos vários testemunhos recolhidos, alguns pontos convergem: o receio de ‘dar a cara’, por temor a represálias; que a maior parte dos ‘convivas’ vêm de outras zonas do país e do concelho, e uma constatação: «desde que o Presidente da República aqui esteve a tirar selfies, a polícia deixou de fazer as rusgas que fazia e de responder às denúncias dos moradores».

 

‘Só podemos dormir de dia, quando eles também dormem’

 

Uma moradora na Quinta da Mata vivenciou a situação do último tiroteio. “Este sábado então foi uma pouca vergonha. Tenho de sair de casa cedo e estava com muito medo, porque só se ouviam tiros e a Polícia, isto além do barulho das festas.

As pessoas que moram ali têm vidros duplos nas janelas, mas já tiveram de colocar outros para evitar o barulho.”

Esta moradora, que não se quis identificar, lamenta que “estou há 22 anos a trabalhar para comprar a minha casa, e não  quero sair dali, mas agora nem posso abrir as janelas no Verão, o meu marido colocou uma rede mosquiteira para termos fresco, mas se abrir as janelas, entra-me a música pela casa dentro, e ele teve de comprar uns tampões de silicone para conseguir dormir durante a noite.

Só podemos dormir de dia, quando eles dormem também, e isto é assim há anos, mas cada vez está pior, com bebedeiras e porrada todas as noites e sem que a PSP responda às denúncias.”

As queixas continuam por parte desta moradora: “todos os dias é música em altos gritos e então aos fins-de-semana, ninguém dorme, porque as festas começam pelas 22h00 e vão até às 6h00 da manhã, e depois é desacatos nas ruas, até saírem dali, e andam sem máscara, sem nada.

As pessoas queixam-se à polícia, eles apercebem-se de que entrou uma patrulha, levantam as esplanadas e dispersam, e quando a polícia sai, voltam a colocar tudo na mesma.

A maior parte das pessoas não moram sequer no Bairro da Jamaika, uns já saíram de cá, outros vêm para cá porque sabem que há festas todas as semanas e estão à vontade. Mora ali muita gente que também tem de trabalhar de madrugada, mas que têm medo de se queixar, porque tal como os moradores das outras ruas, podem depois sofrer represálias.”

E aponta um responsável para esta situação: “desde que o Marcelo Rebelo de Sousa cá veio tirar selfies, então as coisas pioraram muito, eles ganharam força. Antes disso, a PSP fazia muitas rusgas, agora nada. E acho que isto está pior em retaliação por terem sido obrigados a fechar em Maio do ano passado.

Quando ligamos para a PSP, até porque estão a agredir pessoas que nada têm a ver com as festas como um estafeta, dizem que não têm meios, ou como já me responderam, «o que é que quer que façamos?» ou mandam-nos ligar para a Câmara Municipal, que não resolve este problema. Foi preciso esta situação dos tiros e de feridos para irem lá.”

Outro morador, na Rua do Roque, destaca ser esta zona “tranquila e sem roubos ou assaltos”, mas frisa os distúrbios que os ‘convivas’ causam após as festas. “Não basta o barulho que fazem nas festas, ainda vão depois pelas ruas aos berros, em brigas, partem os vidros dos carros estacionados, ou quando andam a fazer corridas, batem nos carros ou nos postes de electricidade. Aqui no final da Rua do Roque, já foram vários os carros que ali estavam estacionados que foram parar dentro do jardim. Trabalhamos e pagamos tudo, e esta gente destrói tudo impunemente.”

E claro, o ruído também incomoda: “montam umas barracas e vendem bebidas. Mas é no exterior que poem as colunas de som em altos berros. Não respeitam nada nem ninguém.

Se têm a cultura deles, têm de respeitar o descanso dos outros, mas se reclamamos, nós é que somos logo apelidados de ‘racistas’.”

Segundo estes moradores, “já foi feito um abaixo-assinado ao início deste ano, e contactado o delegado de saúde, para ver se podiam encerrar novamente os bares, mas ainda nos responderam mal.”

Estrutura que serve como bar onde decorrem festas

 

«Desde que veio cá o ‘Marcelo das Selfies’ isto piorou»

 

A informação é de que existirão neste momento entre 6 a 7 bares a funcionar de forma ilegal, sem licenciamentos e sem cumprirem as normas de encerramento ditadas pelo Governo.

E disso também se queixa o proprietário de um café na Rua do Grémio, no Fogueteiro.

“Eu pago os meus impostos, e tenho de encerrar a determinadas horas, com prejuízo para a casa, sem ter quaisquer apoios. Esta malta monta uma banca, vendem bebidas, fazem barulho e não têm de pagar nada nem de fechar, porque não são multados, uma vez que a PSP não vem cá.”

Sobre o barulho confessa não ouvir, “porque quando abro o estabelecimento não estão já as festas a decorrer, mas ouço os moradores que aqui vêm queixar-se. Isto acontece há anos.”

Numa mesa um grupo de moradoras ouve a resposta deste comerciante e quer deixar também o seu testemunho, até de apoio a este comerciante.

“Como é que estes bares podem estar abertos toda a noite e os outros estabelecimentos ou não podem abrir ou têm de fechar a certa hora?

Desde que a pandemia começou, aumentou o terror para quem aqui vive. Isto era mau, andavam sempre com música em altos berros, e quando saiam vinham pela rua abaixo, arrancavam pedras da calçada e divertiam-se a partir vidros e estores, mas agora está pior.”

Embora admitindo que os estragos não se têm repetido “e até estávamos com medo, porque como andam aí as obras, têm mais ‘material’ à mão”, as queixas são sobre o ruído.

“É malta nova que não tem para onde ir e juntam-se ali, mas são brancos e negros. Metem as colunas de som na rua, uns com música africana, outros com música de ‘bum-bum-bum’, há de tudo para todos os gostos, tenho alturas em que até as paredes da minha casa estremecem” frisa uma das residentes.

“Isto aqui sempre foi um caos… eram festas e distúrbios, venda de droga, e continuam a fazer o que querem”, refere outra das senhoras. “A Câmara Municipal do Seixal sabe bem, mas tem permitido isto, quando os deixou vir para cá morar e por não encerrar estes bares.”

Também referem que “a maior parte é gente que vem da Amadora, da Arrentela, ou da Amora, nem são os que ali vivem, porque no bairro também há pessoas que trabalham e fazem a sua vida, mas não conseguem ir para outro lado. O problema está nos mais novos, que não respeitam ninguém.”

Da parte da PSP as respostas não agradam. “Olhe, já me disseram que não têm autorização do Governo para vir ao bairro e acabar com isto”.

E estas moradoras apontam também o dedo “ao ‘Marcelo das selfies’ porque desde que ele veio cá, parece que ganharam poderes para fazer o que querem, a PSP não aparece e estamos nisto. Toda a gente sabe o que aqui se passa, mas ninguém faz nada.”

O Diário do Distrito solicitou informação à PSP sobre as respostas dadas às denúncias dos moradores, e as respostas recebidas, bem como à ARS-LVT sobre o motivo pelo qual não houve encerramento dos bares no periodo de confinamento e por não respeito às normas da DGS para combate à pandemia, mas até ao momento não obtivemos resposta.

 

 


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