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Fátima: celebrar a fé em tempo de pandemia

A última missa pública foi a 13 de março, dia em que a Conferência Episcopal Portuguesa suspendeu as celebrações comunitárias em todo o país. Desde esse dia, o Santuário de Fátima é um lugar de ainda mais silêncio.

A história de Fátima começou no contexto de uma pandemia, a Gripe Espanhola, que fez milhões de vítimas entre 1918 e 1920. Entre as vítimas, contaram-se os dois mais pequenos videntes – agora santos – o Francisco, que morreu em abril 1919, e a sua irmã Jacinta, que morreu em fevereiro de 1920.

Cem anos depois, o mundo enfrenta uma nova ameaça e Portugal está novamente entre os países afetados. Fátima já não é aquele lugar campestre de há cem anos, onde brincavam a três crianças enquanto guardavam rebanhos. É agora o Altar do Mundo que, embora cuide esencialmente das almas, tem neste tempo de zelar e cuidar da saúde do corpo dos peregrinos da “Senhora mais brilhante que o sol”.

O que mudou nas celebrações?

Neste local, que recebe milhões de peregrinos durante o ano e que tem sempre alguém a rezar, as portas da Basílica de Nossa Senhora do Rosário são abertas apenas para quatro momentos de celebração sem fiéis, fechando-se logo em seguida. São celebradas duas missas, uma às 11h00 e outra às 19h15 e recitados dois terços, um às 18h30 e outro às 21h30.

Todas as orações, transmitidas online pela página da Internet do Santuário e pela televisão católica Canção Nova, são feitas com o menor número de pessoas possível (entre padre, vigilantes, leitores e solista) e até em pequenos gestos se nota o cuidado e o equilíbrio entre as normas litúrgicas e as regras de saúde recomendadas. Por exemplo, o padre deixou de beijar o altar no início e no fim de cada missa, substituindo o gesto por uma ligeira inclinação.

As homilias remetem sempre para a tranquilidade com que os cristãos devem viver este tempo. Na semana passada, o padre Vítor Coutinho, vice-reitor do Santuário, alertou para “não ser dada voz” aos “profetas da desgraça” que apregoam esta pandemia como “castigo divino”.

Todas as missas e orações do terço terminam com uma oração à Virgem Maria, a mais antiga oração à mãe de Jesus Cristo, que remonta ao século III.

Confissões diminuíram “drasticamente”

Tanto a visita às duas basílicas como a veneração dos túmulos dos Pastorinhos estão interditas. Apenas o recinto, a capela de adoração ao Santíssimo Sacramento e a Capelinha das Aparições, onde está a imagem de Nossa Senhora de Fátima, permanecem acessíveis aos peregrinos, embora sem quaisquer celebrações litúrgicas.

Depois das missas, o sacramento mais procurado pelos peregrinos de Fátima é a confissão, que implica interação pessoal entre o penitente e o confessor. Ao Diário do Distrito, o Santuário admite que “a procura do sacramento da confissão reduziu drasticamente”, por isso é assegurado o serviço com dois padres ao longo do dia e “por vezes até só um”.

Durante a confissão “não há qualquer contacto físico entre confessor e penitente”, já que nas grades dos confessionários foram colocadas proteções e cada confessionário é “imediatamente higienizado” após cada utilização.

O Santuário condicionou ainda o acesso às capelas onde decorrem as confissões, “de forma a nem sequer permitir o contacto” entre as pessoas que aguardam a sua vez.

Uma Páscoa à porta fechada

A Páscoa é o acontecimento mais importante no calendário cristão, em que é lembrada a ressurreição de Jesus Cristo. Os dias mais importantes são, por isso, celebrados com toda a solenidade, desde a tarde de quinta-feira santa até ao domingo de Páscoa. É o chamado Tríduo Pascal.

Em Fátima, as celebrações desses dias vão ser celebradas sem assistência de fiéis, “à porta fechada na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, cumprindo as diretivas do Vaticano e as orientações diocesanas”, refere o Santuário.

13 de maio: uma incógnita

O dia de Nossa Senhora de Fátima, a 13 de maio, assinala o dia da primeira aparição aos Pastorinhos em 1917 e é o início de uma série de peregrinações internacionais ao Santuário que se prolongam até Outubro. O recinto enche-se todos os anos com centenas de milhares de peregrinos, principalmente na noite do dia 12 e na manhã do dia 13. Mas este ano poderá ser inédito.

Com a atual previsão da Direção-Geral da Saúde, que aponta o pico da pandemia em Portugal para finais de maio, existe a probabilidade do dia 13 de maio ser celebrado também à porta fechada ou de as celebrações serem fortemente condicionadas.

Contactado pelo Diário do Distrito, o Santuário considera ainda “prematuro qualquer pronunciamento sobre o assunto”, mas garante que as decisões serão sempre tomadas “em articulação e conformidade com as orientações da autoridade de saúde”.

Até lá, Fátima continua aberta para acolher os peregrinos nas suas orações individuais. Ao mesmo tempo, à porta fechada, o Santuário reza Àquela que ali abriu e mostrou o coração de Deus à Humanidade.


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