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Fact-cheking desmonta posição russa sobre massacre em Bucha

Depois de as tropas ucranianas terem recuperado esta semana o controlo de Hostomel e das cidades vizinhas de Bucha e Irpin, após a retirada russa, entraram pela casa de todos as imagens dos corpos dos habitantes de Bucha, na Ucrânia, abandonados pelas ruas ou nos locais onde procuravam proteger-se.

Perante as acusações de ‘crimes de guerra’ e o cenário de horror divulgado pelos jornalistas e nas redes sociais, a Federação Russa apressou-se a garantir que as atrocidades não tinham sido cometidas pelas tropas russas durante as cinco semanas de ocupação, mas sim soldados ucranianos, que se teriam assim vingado dos moradores pró-russos.

O porta-voz do Kremlin Dmitry Peskow afirmou numa conferência de imprensa que as fotos eram uma «provocação» e «uma performance encenada organizada por forças ucranianas para os media ocidentais».

Disse ainda que «especialistas do Ministério da Defesa identificaram sinais de falsificações de vídeos e várias falsificações», sem acrescentar mais detalhes.

À semelhança do ocorrido após o bombardeio do hospital pediátrico de Mariupol, a Rússia iniciou uma campanha massiva de desinformação para negar o massacre através da exploração de teorias da conspiração que circulam online.

Para estas teorias contribuiu uma gravação realizada por Ilya Novikov, um advogado russo, com origens ucranianas, conhecido por defender vários presos políticos russos, vídeo que foi partilhado nas redes sociais e exibido em várias televisões.

Parte do vídeo foi filmado de dentro de um veículo em movimento e mostra alguns cadáveres nas laterais da rua. A filmagem dura apenas alguns segundos e, de acordo com as autoridades russas, supostamente mostra um cadáver a mover uma mão, «provando assim que toda a cena foi encenada».

Perante essas afirmações, várias agências de verificação de dados, como a Facta.News, de Itália e a Maldita.es, de Espanha, parte da rede EDMO – European Digital Media Obseratory, desmontaram os argumentos russos.

A começar pelo vídeo de Novikov, no qual «a mão em movimento é na verdade uma ilusão de ótica causada por uma gota de água no vidro do carro. Uma versão mais lenta da filmagem, com cores invertidas para maximizar o contraste, mostra claramente que o suposto ‘movimento’ se deve, na verdade, a uma distorção temporária da imagem causada por uma gota de água no vidro do carro. A 2 de abril, quando o vídeo foi compartilhado pela primeira vez, chovia em Bucha», referem os fact cheks.

Ainda baseados no vídeo de Novikov, a Rússia afirma que se vê um corpo em movimento, no retrovisor do carro. Para os teóricos da conspiração, essa imagem demonstrava que as pessoas não estavam mortas, porque se levantavam logo que carro passava.

No entanto, na versão original do vídeo, que tem uma qualidade superior à dos que foram partilhados na comunicação social, não surge qualquer movimento entre os corpos que se encontram em ambos os lados da estrada.

A 3 de abril, Shayan Sardarizadeh, jornalista de investigação da BBC, explicou no Twitter que o movimento aparente se deve, na verdade, à distorção natural criada pelo retrovisor do carro.

A Facta.News conclui que «a desinformação sobre o conflito na Ucrânia continua a espalhar-se, apoiada pela propaganda russa.

Assim como aconteceu com o bombardeamento do hospital de Mariupol, o Kremlin divulgou uma versão enganosa do que aconteceu na cidade ucraniana de Bucha, que é desmentida por vídeos, fotos e histórias relatadas por jornalistas no local.

As imagens originais que analisámos mostram inequivocamente que as vítimas em Bucha são reais e indicam que as tropas russas são responsáveis ​​por matar civis inocentes.»


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