Opinião

Estardalhaço desnecessário

Uma crónica de Vera Esperança.

Ano novo é sinónimo de fogo de artifício e foguetes. De muito barulho, muita confusão e gritaria como se o dia seguinte “zerasse” o cronómetro da vida, as nossas ações e omissões, e um recomeço de tudo resplandecesse à nossa frente. Mas não. Pode pousar o flute.

Este estardalhaço à volta de um calendário incomoda os ouvidos mais sensíveis sendo consequentemente apontado como uma das causas de maior desespero que um animal pode experienciar. Está por isso na origem de mortes de animais domésticos e selvagens.

A pirotecnia e seu estrondoso ruído é responsável pela fuga desvairada de animais, que acabam atropelados ou perdidos das suas matilhas, de ataques cardíacos inesperados, de refúgio em esconderijos inseguros, de desmaios e convulsões. É culpada pela morte de muitas aves, que em desespero chocam com violência contra estruturas urbanas ou fogem dos ninhos abandonando as suas crias. É o motor de mortes de animais silvestres indocumentadas.

Tudo espelhando reações de defesa perante um barulho assustador, para os bichos inexplicável e até mortífero.

É por isso que o PAN defende de forma acérrima a substituição do fogo pirotécnico tradicional pelo fogo pirotécnico silencioso, fundamentando-se em evidências científicas. Com efeito, um animal tem uma capacidade de audição muito superior à do ser humano, sendo capaz de captar sons na frequência entre 10 e 40 mil Hertz, enquanto o ser humano capta sons entre as frequências 10 a 20 mil Hertz. E esta é a diferença suficiente para potenciar uma dor auditiva no animal e o seu consequente desespero…

São vários os sinais de alarme que o seu animal lhe pode transmitir: ansiedade, tremores, vómitos, medo, taquicardia ou convulsões (se o seu animal sofre de epilepsia, a medicação, neste tipo de situação, pode não controlar as convulsões).

Mas não pense que as consequências se repercutem apenas nos animais. Lembro-me de um dia, devia ter os meus 5 anos, em que fui com os meus pais ver fogo de artifício. Era 25 de abril. Cheguei a casa à noite e toda eu era uma poça de urina. Sim, crianças, idosos, pessoas portadoras de determinadas deficiências… não apenas os animais são o alvo mais fraco destes espetáculos ruidosos.

Mas voltando aos animais, porque é disso que se trata, vou ensinar-lhe o que fazer caso não consiga afastar o seu leal companheiro deste tipo desnecessário de festejos. Em primeira linha, tente minimizar ao máximo o barulho – feche as janelas, portas, cortinados e persianas da casa. Ligue o rádio ou a televisão. Durante os fogos, brinque com o animal e tente distraí-lo, convencendo-o que o barulho é perfeitamente normal. Fique sempre junto dele, mas transmita-lhe segurança e tranquilidade. Pode ainda tapar os ouvidos do animal com uma grande bola de algodão ou enrolá-lo numa manta. Se se tratar de um gato que gosta de dormir na transportadora, pode colocá-lo na caixa tapada com uma coberta – é um abrigo que não terá de procurar, porque é isso que se procura, um abrigo, no momento do pânico.

É claro que pode também treinar o bichaninho, com uma terapia de habituação aos ruídos mais fortes.

Ao fim e ao cabo, tudo seria mais simples se os fogos fossem silenciosos – os humanos podiam assistir ao espetáculo de cor e os não humanos podiam continuar na sua vidinha rotineira, na paz do criador. A solução de compromisso já foi aventada pelo PAN – esperemos que seja aceite e compreendida num mundo que se quer em respeito de todos.

Até lá. Desejo-lhe um bom dia de amanha, durante todas as noites deste e de todos os anos.

Voltarei, porque, afinal, “somos todos iguais”.


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