Opinião

Em Alcochete tudo o vírus provocou, ‘tudo é obra do azar… tudo é obra do diabo’

À boleia da catástrofe sanitária e das crescentes necessidades sociais, certos políticos, animados pelas suas claques partidárias locais mas também por muitas pessoas que se resignaram ao clima generalizado da desgraça, tudo hoje justificam com o vírus.

Como se o COVID 19 ou outros vírus tivessem estimulado, nomeadamente os vírus da irresponsabilidade, da falta de vergonha e o vírus da desculpabilização.

É com alguma agonia que observamos como, a reboque da catástrofe pandémica que assola todo o nosso planeta, governantes locais cavalgam a onda da desgraça e do infortúnio, aproveitando o estado de medo e angústia que todos vivemos, mas particularmente as gritantes carências que certos segmentos sociais da nossa comunidade enfrentam, para se exibirem em indecorosas ações de propaganda política e, sobretudo, para branquearem todas as suas insuficiências.

Até há pouco tempo, a bazófia e o autoelogio imperavam. Aqui d’el-rei que Alcochete era, para a atual maioria camarária, um verdadeiro paraíso, em que o Covid 19 mal entrara e em que tudo estava controlado, não obstante pouco ou nada terem feito para o combater ou suster.

Mas, agora que a situação é, em termos relativos, das mais gravosas da região e do país, assobiam para o lado, já não há o habitual vídeo das mil maravilhas, mantém os eventos para a fotografia e siga a festa…pois já nada é com eles.

Uma obra é sucessivamente atrasada e encontra-se paralisada há largos meses por incúria do empreiteiro e/ou dos responsáveis autárquicos, por falta de acompanhamento ou erro na instrução do processo junto do Tribunal de Contas (veja-se o que está a acontecer vergonhosamente com as obras do Miradouro e da Coophabital, bem como o que acorreu na Rua do Láparo…), mas logo vêm os argumentos das chuvas e da crise pandémica para justificar o seu infinito arrastamento.

Todos os anos prometem recuperar o Centro de Estágio/Albergue da Juventude, equipamento ímpar na região, que tanto jeito poderia ter dado no apoio ao combate e controlo locais da pandemia, mas há 3 anos que o mantém encerrado, preferindo entretanto reservar hotéis privados, pairando sobre o CEAJA o diabo da iminente privatização.

Um caminho privado foi alcatroado à socapa pela Câmara e um telheiro avultado construído sem projeto e sem licenciamento, tudo junto à moradia e em benefício pessoal de um eleito do PS na freguesia do Samouco, sem explicação alguma e sem que se tenha sequer aberto um processo de contraordenação e aplicadas as sanções legais, tudo uma inadmissível manifestação de nepotismo da atual maioria camarária que, porventura e por efeito do “Covid 19”, se coloca acima da lei;

Uma rede de águas rebentou por completo em plena crise sanitária porque o sistema de válvulas, de gestão da pressão da água, se avariou por assumida falta de manutenção do equipamento… a reparação dessa avaria demorou 3 dias sem aviso e informação à população, ao invés das poucas horas habituais, por falta de material em stock e por manifesta desorientação e falta de capacidade para lidar com o problema… e logo renasceram as teorias fatalistas, como se a falta de manutenção do equipamento (se não mesmo erro técnico na ligação de novas condutas em obras na proximidade…) e a demorada reparação por falta de material em armazém fosse algo natural, resultante apenas do azar.

Mais recentemente estiveram durante 8 dias todos os serviços de atendimento ao público encerrados ou condicionados devido a uma avaria grave do sistema informático, por manifesta falta de investimento na atualização e manutenção dos equipamentos, rede e software, mas tudo é desvalorizado e tratado como coisa pouca.

Caiu uma das naturais chuvadas e em poucos minutos a Vila ficou totalmente alagada, com necessidade de intervenção dos bombeiros em diversas habitações, comércios, garagens…sofrendo a mais grave situação de toda a região, quando nas últimas 3 décadas tal fenómeno havia deixado de acontecer com os avultados investimentos realizados nas respetivas infraestruturas. Não havendo dúvidas de que o ocorrido em Alcochete, com a gravidade registada, apenas se deveu no essencial à falta de limpeza regular dos sumidouros (interna e externamente).

No entanto, de imediato se apressaram os arautos da desculpabilização com a falaciosa tese do que “sempre foi assim e que tal também teve lugar noutros concelhos”.

A par de tudo isto, durante meses não se recolheu o lixo nem os monos domésticos, não se limparam os passeios, largos e valas, deixando-se proliferar “ervados e matagais” por todo o lado, deixou-se o concelho ao abandono, porque desmantelaram os serviços municipais e tudo entregaram aos privados (cujas adjudicações também atrasaram), mas tudo isto é justificado com o vírus…

Pressionados pela opinião pública e pela tremenda incúria da sua gestão, lançaram-se estes novos senhores da Câmara de Alcochete em iniciativas espúrias e não programadas apenas para dar nas vistas e tentarem mostrar que fazem acontecer alguma coisa.

Amputaram e desfiguraram largos e jardins, empedrando espaços verdes e aterrando fontes de água (como foram os casos do Largo da Sociedade e do Jardim do Coreto), chegando mesmo ao ponto de “inventarem um suposto vírus”, que ninguém conseguiu vislumbrar, para se lançarem num abate quase indiscriminado de árvores em vários pontos do concelho (como aconteceu tristemente no largo do Casal/MFA no Samouco), sem prévios estudos técnicos credenciados e sem consulta da Junta local.

Tudo serve para tapar a inércia e impreparação do atual executivo camarário de Alcochete. Que desbarata a situação financeira ímpar herdada da anterior gestão e beneficiada pela conjuntura do presente mandato, pelos impostos mais altos da região e até pelas enormes poupanças decorrentes das inatividades provocadas pela pandemia.

São lestos e não olham a meios na propaganda, nos vídeos, nos eventos… mas tratar daquilo que é essencial para a qualidade de vida das populações (água, saneamento, limpeza, tratamento dos espaços urbanos, investimentos estruturais…) não são manifesta e infelizmente capazes.

Tudo se tenta endossar à catástrofe pandémica e ao azar. Tudo o vírus provocou…tudo passou a ser, muito convenientemente, mera “obra do Diabo”.


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