Opinião

Eleições

As eleições de 30 Janeiro, quais pancadinhas de Molière, vieram levantar o pano sobre o desempenho dos diferentes actores políticos.

Como em todos os bons enredos as narrativas constroem-se entre a fatalidade do contexto e a qualidade das escolhas individuais. Este teatro político não foi diferente, emergindo da urna, inevitável e derradeira a sentença, decretando vencedores e vencidos, os bons, os maus e os vilões…

Infelizmente, o PAN, projecto político que decidi abraçar, encabeçando nas últimas eleições a lista pelo distrito de Setúbal, sofreu um duro golpe, traduzindo-se numa redução de 75% da sua representação parlamentar, passando de 4 deputados para um, conseguindo eleger apenas a nossa actual porta-voz, Inês Sousa Real, já a noite ia longa e com um indisfarçável suspiro de alívio por não partilharmos com o largo do caldas o canto do cisne parlamentar.

Independentemente dos factores que contribuíram para este desfecho se articularem entre causas internas e externas, com ponderações subjectivas dependendo do ponto de vista, podemos, de forma muito sucinta organiza-las em causas de contexto, inescapáveis e independentes das escolhas particulares, onde se destacam a fortíssima polarização do voto, a emergência de novas forças que em maior ou menor grau partilham o nosso espaço político, bem como o próprio contexto pandémico onde o medo e incerteza da vida diária contribuíram para congregar peso e força à procura de certeza e estabilidade na decisão de voto.

Mas nem só de fado se faz o destino, as escolhas e estratégias autodeterminadas tiveram também uma preponderância incontornável, e aí faço também um acto de contrição, pois enquanto membro da comissão política nacional partilhei com os restantes comissários a incapacidade de antever as possíveis repercussões comunicacionais de um posicionamento político onde a visão progressista não é alcançável acantonada em soluções e medidas proporcionadas apenas por um dos lados do espectro político, sendo esta proposta confundida com sede de poder.

À incapacidade de desconstruir este logro soma-se um discurso, que vem desde a tomada de posse da actual direcção e ao qual eu e a distrital de Setúbal sempre nos opusemos, verbalizando sistematicamente a ambição de fazer parte de uma solução governativa, contribuindo assim para sedimentar ainda mais a ideia de sede de poder e de eventual “bengala” do PS.

Para compreendermos os resultados de dia 30 de forma honesta temos também de acrescentar ao somatório de razões os ataques de índole pessoal movidos contra a nossa porta-voz Inês Sousa Real, independentemente da sua extrapolação e empolamento artificiais, ninguém poderá negar que os seus danos foram e são bem objectivos.

Esta narrativa desenrola-se sobre um ensurdecedor ruído de fundo e crítica interna com acusações de falta de democraticidade e saneamentos políticos, onde a antevisão de resultados menos bons anunciava a tempestade perfeita.

Todo este quadro decreta um processo de progressiva degradação do nosso eleitorado, materializado no resultado das últimas eleições, mas que infelizmente pode até não parar por aí, pois tivesse a opinião pública consciência na altura do voto, que uma direcção partidária na sequência de uma derrota tão evidente, com crítica interna, erros estratégicos e casos pessoais, não proponha imediatamente a realização de um congresso como forma última de se relegitimar e simultaneamente defender o superior interesse do partido, muito provavelmente não seria apenas o CDS a ser excluído do hemiciclo, pois, apesar de tudo, Rodrigues dos Santos, não tinha os casos pessoais de Inês Sousa Real.

O episódio do líder do CDS teve o mérito, contra o seu desejo com certeza, de deixar bem patente o dano que uma liderança agarrada ao poder é capaz de proporcionar ao sentido de voto no partido.

Como não poderia deixar de ser, e à semelhança de incontáveis ressacas eleitorais, após uma derrota desta magnitude, tanto para salvaguardar a imagem do partido externamente como para capacitar a direcção com o capital de legitimidade que lhe permitiria traçar desempoeiradamente o rumo a seguir, convoca-se um congresso, não se vai “ouvir as bases” sem qualquer qualquer enquadramento estatutário, onde o peso, vinculação e consequências das opiniões ouvidas estará dependente do critério discricionário precisamente de quem é alvo dessa mesma avaliação, é preciso ser muito ingénuo para não vislumbrar aqui um gritante conflito de interesses.

Outra implicação deste conflito é a possibilidade bem real de existência de condicionamento de opiniões, pois qualquer filiado que eventualmente tenha ambição nas estruturas locais vai no mínimo ponderar o alinhamento da sua distrital/ concelhia antes de proferir uma opinião sincera sob o risco de ser preterido numa eventual escolha, mais ainda se a sua estrutura for abertamente apoiante desta direcção.

Este “périplo pelas bases” traduz-se efectivamente apenas numa manobra dilatória ou num subterfúgio escapista. Fugindo à postura de coragem que deveria marcar aquilo que é uma liderança, tanto na vitória como na derrota, convocando imediatamente um congresso, mitigando assim males maiores ao partido.

A sua não marcação vem precisamente corroborar as críticas, pois sendo o congresso uma ferramenta maior de legitimação, o medo (ainda que camuflado) da sua realização é uma afirmação de fraqueza e anuência as críticas de falta de legitimidade, dando razão a quem nos acusava de querer poder a todo o custo, pois até internamente é essa a bússola que orienta a conduta.

Eu, como consequência de considerar esta atitude a única plausível a uma liderança que salvaguarda o melhor interesse do partido, demiti-me das funções de membro por inerência da comissão política nacional do partido e subscrevi o manifesto a pugnar pela realização de um congresso extraordinário electivo, deixando bem claro que não apoiaria qualquer candidatura, precisamente para sublinhar o meu compromisso com o melhor interesse do partido, não estando a minha análise sujeita a qualquer viés sectário de uma ou outra facção interna.

Pelas Pessoas

Pelos Animais

Pela Natureza

É necessário AGIR JÁ.


ÚLTIMA HORA! O seu Diário do Distrito acabou de chegar com um canal no whatsapp
Sabia que o Diário do Distrito também já está no Telegram? Subscreva o canal.
Já viu os nossos novos vídeos/reportagens em parceria com a CNN no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Siga-nos na nossa página no Facebook! Veja os diretos que realizamos no seu distrito

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *