Opinião

Dignidade nas eleições presidenciais

Uma crónica de Bruno Fialho

Aproxima-se a data limite, 24 de Dezembro, para serem apresentadas no Tribunal Constitucional as candidaturas às eleições presidenciais, pelo que, hoje irei falar sobre uma em particular, que é a minha própria candidatura.

Quando a 27 de Julho apresentei a intenção de candidatar-me à Presidência da República, acreditava que a pandemia do covid-19 estaria minimamente controlada logo após o fim do verão.

Julgo que poucos acreditavam que, por esta altura, ainda não se soubesse quando é que iremos conseguir ultrapassar esta pandemia e, consequentemente, a grave crise económica que se está a revelar avassaladora e com consequências inimagináveis.

Assim, é somente após ter conseguido reunir as 7500 assinaturas necessárias para oficializar a candidatura à presidência da República, que decidi não me apresentar às próximas eleições.

Agradeço a todos aqueles que trabalharam voluntariamente para que esse objectivo fosse alcançado e peço desculpa a todos os que possam ficar desiludidos por esta tomada de posição, mas esta é a minha maneira de mostrar respeito e solidariedade para com os portugueses.

O momento que o país atravessa e a situação financeira em que a maioria dos portugueses se encontra não se compadece com a participação numa eleição que, em particular nesta, iria essencialmente servir para promover a minha imagem.

Não sou político profissional, pelo que, prefiro perder uma oportunidade única, que é participar numa eleição presidencial e poder continuar a respeitar os valores e os princípios que regem a minha vida, para que, desta forma, permaneça com a minha dignidade intacta.

Despender alguns milhares de euros no circo mediático que serão as próximas eleições, principalmente devido às condicionantes que serão impostas, e numa altura em que os portugueses estão a lutar contra uma pandemia, ao que se juntam as consequências económicas e sociais que ela já provocou, continuar com a candidatura seria deixar de poder olhar-me ao espelho para o resto da minha vida.

Para esta decisão também contou o facto de ter dois filhos, com 4 e 6 anos, e saber que daqui por uns tempos teria de responder à seguinte pergunta: “Pai, por que razão, em 2021, concorreste às eleições presidenciais e fizeste uma campanha eleitoral, quando Portugal e os portugueses tiveram um Natal onde lhes foi pedido para não estarem com a família, quando não podiam circular livremente e muitas pessoas passavam por enormes privações?”

E relativamente à campanha eleitoral propriamente dita, que motivação é que teria para andar de localidade em localidade a passear pelas ruas a fazer campanha, quando os portugueses estão confinados e muitos negócios proibidos de abrir portas?

Mas, ainda mais inexplicável e incongruente é a situação relativa ao estado de emergência, em que é proibido a 7 amigos estarem a conversar na via pública e ir ser permitido a 12 desconhecidos, durante as eleições, irem de casa em casa recolher os votos daqueles que estão em isolamento por covid-19.

Caso os canais televisivos e os restantes órgãos de comunicação social fossem imparciais, tratassem todos os candidatos por igual e concedessem o mesmo tempo de antena a quem se apresenta às eleições, o que não acontece, até poderia considerar fazer uma campanha assim onde, em princípio, não iria gastar um cêntimo, ficando por aparecer apenas nas redes sociais e nos debates televisivos.

Mas, infelizmente e como se tem constatado, os canais de televisão são tendenciosos e amigos daqueles que têm representação parlamentar, pelo que, se tomasse essa decisão, apenas iria “passear” a vaidade de aparecer no grande ecrã, mas remetido para um qualquer debate na RTP 3.

O mais curioso é que ainda há uns tempos atrás alguns candidatos se revoltavam contra esta situação, mas agora que já conseguiram os seus objectivos eleitorais, esqueceram dos valores e princípios que diziam defender.

Se esta decisão causar o meu desaparecimento político, então quer dizer que estou a mais  na política, pois quando decidi entrar neste mundo foi para tentar trazer a dignidade e valores que considero que se têm perdido ao longo dos anos.

A política é que tem de se moldar aos valores e princípios da sociedade e não podem ser aqueles que decidem enveredam por este caminho a ter de se sujeitar seja ao que for para conseguirem permanecer vivos neste mundo de podridão que é actualmente a nossa política.

Por essa razão, também decidi não gastar dinheiro a alugar um espaço para realizar uma conferência de imprensa, optando apenas por emitir um comunicado à imprensa e escrever este artigo, onde me é possível detalhar os fundamentos desta minha decisão.

Os portugueses merecem mais respeito da nossa classe política, o que nas últimas décadas não tem acontecido. Estamos a viver um momento em que os interesses pessoais ou partidários devem ser anulados para nos concentrarmos apenas no colectivo.

Tal como no dia em que na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, prestei juramento à bandeira portuguesa e jurei defender a minha Pátria, mesmo com o sacrifício da própria vida, hoje em dia, independentemente do que o futuro me reservar, continuarei a tentar defender os portugueses contra todos os interesses, principalmente os internos que, neste momento, nos têm prejudicado mais do que quaisquer outros.

Portugal não necessita de políticos profissionais, necessitamos de cidadãos que queiram fazer uma política diferente, sem lutas de egos ou dicotomias ideológicas e que estejam focados num único interesse, o do Bem-comum.

Por último, queria sugerir aos candidatos que efectivamente finalizem o processo de candidatura e se apresentem às eleições presidenciais, que não entrem em conflitos pessoais e dignifiquem o cargo para o qual se candidatam, mas, acima de tudo, respeitem a dor e o que a maioria dos portugueses está a passar, começando por recusar, à partida, qualquer subvenção dos valores que serão gastos na campanha eleitoral, porque é preciso haver dignidade nas eleições presidenciais.


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