OpiniãoPolítica

De Avião ou Comboio?

Nos últimos dias, no decorrer da crise pandémica em que vivemos, muito se tem discutido sobre o futuro da TAP.

Se por um lado o COVID-19 paralisou a maior parte do transporte aéreo, com o corte de muitas das linhas (e dos lucros), as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo esperam que a sua companhia nacional não as deixe para trás.

O retomar da maior parte das ligações a partir de Lisboa em detrimento do Porto, já levou a descontentamento na Região Norte e muitos temem mais injeção de capital numa empresa que, após a parcial nacionalização, significou apenas a privatização dos lucros e a nacionalização das perdas.

A pandemia global veio pôr em causa muitas das nossas antigas certezas, nomeadamente nos investimentos estratégicos em infraestruturas. Fará sentido nesta nova realidade a construção de um novo aeroporto?

Os contribuintes estão dispostos a investir o seu dinheiro num setor que, na sua maioria, se encontra em lay-off?

Não admira, no entanto, este novo arrufo regional entre Lisboa/ Porto por ligações aéreas. Caso um passageiro da Área Metropolitana de Lisboa queira embarcar num avião no Porto (ou vice-versa), resta-lhe ou apanhar um avião (algo que na situação atual é proibitivo) ou embarcar na aventura que é percorrer esses 300km de comboio.

Caso tenha sorte e não haja avarias ou atrasos, demora apenas pouco mais de 2 horas e meia, caso escolha o Alfa Pendular. Se for LisboaBraga é apenas mais 1 hora (3h30min).

Como é possível que a faixa atlântica, a mais populosa e economicamente dinâmica área do país, lar de mais de 7 milhões de portugueses, se encontra servida por uma tão deficiente rede ferroviária (para não falar da completa decrepitude das linhas no interior)?

O Governo apresentou um ambicioso conjunto de investimentos na ferrovia, o chamado Ferrovia 2020, bastante focado na eletrificação de linhas, melhores sistemas de sinalização assim como na construção de novas linhas relacionadas com o Porto de Sines. Estes investimentos são fulcrais, no entanto, como era esperado, muitos foram abandonados ou se encontram atrasados.

Para além disso, como o plano não tem em consideração a adaptação do traçado a essas melhorias, as velocidades de transporte de passageiros serão as mesmas! Mesmo com a eletrificação prevista, as velocidades continuaram as mesmas de há algumas décadas (de há 60 anos na linha algarvia!).

Como podemos ver, Portugal não está de todo preparado para esta era de setor ferroviário liberalizado.

Ao mesmo tempo que se fala no resgate da TAP, pondera-se o fim do Lusitânia Expresso, única ligação ferroviária entre Lisboa e Madrid.

Com certeza que existe uma causa razoável que, numa era de preocupação ambiental e de completa falência do modelo de transporte aéreo, justifique o fim dessa linha histórica, o maior isolamento ferroviário do nosso país e a opção por um investimento certamente ruinoso…

Esta falta de planeamento e pensamento estruturado, que infelizmente caracteriza a maior parte da ação governativa portuguesa, não só dá azo a graves prejuízos financeiros e sociais como não serve de todo o interesse nacional.

Resta-nos esperar que esta crise que atravessamos, que tantas mudanças tem originado nas nossas vidas pessoais e profissionais, faça o Governo mudar também o seu rumo em relação a estes setores estratégicos.


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