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Crianças vítimas de abusos sexuais forçadas a contar 8 vezes o que se passou

Uma criança vítima de abusos sexuais foi forçada a relatar pelo 8 vezes a história do crime. De acordo com os especialistas, o procedimento resulta numa “revitimização absolutamente inaceitável”, e alerta para as consequências “gravíssimas” para o desenvolvimento da criança.

O tema foi debatido esta sexta-feira, numa altura em que se assinala o Dia Europeu para a Proteção das Crianças contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexual, na Assembleia da República onde os especialistas lembraram que em média, uma a cada cinco crianças já foi ou é vítimaa de abusos sexuais.

Os especialistas destacaram que os jovens que sofrem com estes abusos, são vítimas do sistema desde que entram na escola, até ao procedimento policial e jurídico que os obriga a repetir várias vezes as ocorrências, o que pode gerar repercussões para o resto da sua vida.

De acordo com a vice-presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ), “está também comprovado que as crianças vítimas de abusos sexuais têm de contar a sua história oito vezes”.

“Isto é uma revitimização daquela criança que é absolutamente inaceitável e, por isso, todos os mecanismos que consigamos adotar e desenvolver são muito bem-vindos”. acrescentou Maria João Fernandes.

Paulo Pelixo, psicólogo clínico trabalhou durante nove anos numa equipa especializada em intervenção em abuso sexual e revelou que “mais dos que as próprias revelações de abusos”, foi a confirmação que o as instituições estão “pouco preparadas” para atender às necessidades das vítimas.

“Agimos de forma desarticulada e não estou a dizer que não há práticas de excelência porque as há, em todos os setores. A questão em Portugal, como noutros países, traduz-se muito na forma como estamos organizados ou desorganizados”, apontou.

Sublinhou ainda que as “crianças que revelam os crimes são apenas uma minoria” no panorama global do problema e que “é preciso uma coragem imensa para revelar uma situação de abuso quando se confrontam com todas as perdas que a sua revelação implicou”, desde, por exemplo, a quebra de contactos com a família, o abandono da escola e afastamento dos amigos ou quando era “novamente perguntado o que é que aconteceu”.

Acabou por criticar a forma como as vítimas são abordadas, “muitas vezes as intervenções são mais traumáticas do que as situações de abuso em si”.


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