Opinião

Contra o carnismo, lutar, lutar!

Uma crónica de Vera Esperança

Continua aí? Faz bem. Nada melhor que poder contar consigo para a divulgação da minha mensagem que hoje é aproximada a uma evangelização. Aprender a viver sem recorrer ao sofrimento dos outros é a mensagem.

A não violência está relacionada com a desnecessidade de fazer sofrer os animais para nos podermos alimentar. Matar animais para a nossa alimentação é uma questão de violência? Pois claro, que é. E apenas o ser humano a ela recorre. Não me venha falar e dizer demasiados blá, blá, blá referentes ao já muito esgotado argumento que os animais se alimentam uns dos outros. E porquê, pergunta-me. Porque a violência, aquela que conhecemos, agressiva e ofensiva, não existe nos animais. O que existe é um comportamento natural – os animais não ficam com pena de quem matam, nem lhes faz impressão matar a sua presa. Fazem-no porque a isso são obrigados, por uma questão de sobrevivência. Para eles, é assumir um comportamento natural e necessário. Para si, não é.

A verdade é que entre eles não há nenhuma espécie que seja escrava de outra ou a ela submissa. Apenas o ser humano faz isto – condena o comportamento do animal, embora este não esteja sujeito a regras morais. Apena o homem é um ser moral. Passo a alguns casos concretos que o vão elucidar sobre o sofrimento que está a provocar a outros seres ao consumir produtos de origem animal, Ora veja:

As vacas. As vacas passam por processos de inseminação artificial, abusando o ser humano da sua sexualidade. Após, estes animais carregam os seus filhos durante 9 meses, para que os seus vitelos recém-nascidos lhes sejam retirados. E sabe porquê? Porque não há vacas leiteiras na natureza – as fêmeas só dão leite se tiverem vitelos. Portanto, enquanto bebe um leite que não lhe pertence (o leite da vaca é para o filho dela e não para si), existem vacas e vitelos separados à nascença, que chamam um pelo outro, que sofrem com a separação. Se os vitelos forem machos vão para consumo humano, se forem fêmeas podem ter a sorte (sorte?!) de ficarem na exploração com um destino de sofrimento marcado. Conte-me lá aqui uma coisa: já ouviu uma vaca a gritar por ser afastada do seu filho? Já viu uma vaca que foi afastada do seu vitelo a tentar ir ter com ele? A reconhece-lo após dias de separação? Não? Então quando beber o seu leite, comer o seu iogurte, manteiga, queijo ou outra coisa qualquer tente ouvir os gritos de quem lho ofereceu. São de arrepiar.

E os leitões? Sabe que são castrados sem anestesia para que a sua carne não deite mau cheiro quando estiver a ser cozinhada? Arrancam-lhes a cauda e parte dos dentes para não se atacarem uns aos outros, enquanto vivem fechados, em stress. E isto nos primeiros dias de vida, para não gritarem. Corta-se e não piam, tomem lá!

E por falar em piar, falemos agora das galinhas que vivem enjauladas, muitas com as asas e patas partidas por falta de cálcio, privadas do seu comportamento natural. Tudo para porem ovos incessantemente. Nas grandes produções, os pintos machos são triturados poucas horas após o nascimento… não põem ovos e por isso não são economicamente viáveis. Nas pequenas produções, certamente por falta de dinheiro, ao invés de serem triturados vivos, os pintos machos morrem asfixiados amontoados dentro de sacos. As fêmeas é que são umas sortudas – ficam com o destino das progenitoras. Engaioladas para sempre para serem engordadas e porem ovos. Será que foi por esta prática ser comprovadamente horrenda que os suíços (e já este ano os franceses) proibiram nos seus países a trituração de pintainhos machos levada a cabo pela indústria de ovos? Humm…..  bem, de qualquer forma, a industria dos ovos permanece nesses países, mas tiveram o cuidado acrescido de desenvolver uma técnica que permite identificar  o sexo do pinto ainda dentro do ovo. Se for macho, o ovo é destruído antes do seu nascimento. Resta saber se o não acabado pintainho também sofre com a destruição do ovo que o acomoda…

Mas o caricato é que tudo isto legal. Sério! A lei permite isto tudo! O legislador definiu os requisitos que gerem as relações na sociedade onde o que mais pesa é o valor da indústria, do dinheiro – melhores condições para os animais implica maiores gastos e, por isso, as atuais regras de bem-estar animal não são verdadeiras regras de bem-estar animal. Surpreendido? Claro que não.

Mas olhe que carne é carne – a única diferença é a nossa perceção e a nossa conveniência. Pegamos nas diferentes espécies e etiquetamo-las – armamo-nos em Deus e decidimos a vida dos outros, mas faz sentido amar uns e comer outros? Se nascêssemos na China estaríamos a comer cão…

Há um livro de uma conhecida autora Melanie Joy que se intitula  Why we love dogs, eat pigs and wear cow? onde pela primeira vez surge o conceito de carnista. Ora, o carnismo é um sistema de crenças, invisível, dominante, plenamente enraizado, violento, que condiciona as pessoas a comerem determinados animais. Os animais são vítimas do carnismo e os humanos também, embora sejam vítimas indirectas, prejudicando a sua saúde e a sua moralidade necessariamente contraditória.

Felizmente, o carnismo começa a ser posto em causa e por isso há a necessidade de esconder o que se passa com os animais. Não vemos os locais de criação, o abate dos animais… é tudo feito às escondidas, para ninguém ver, para ninguém ouvir, para que ninguém se revolte…  

Revolte-se.

Voltarei, porque, afinal, “somos todos iguais”.


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