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Comerciantes de Amora anunciam encerramento nos dias da Festa do Avante! – lista actualizada

Um conjunto de comerciantes decidiu encerrar os estabelecimentos durante os três dias da Festa do Avante! e o Diário do Distrito foi conhecer os seus motivos.

Depois do descontentamento mostrado por moradores na Amora sobre a realização da Festa do Avante!, e do apelo para colocação de panos negros nas janelas em protesto, alguns comerciantes da zona adjacente à Quinta da Atalaia, na freguesia de Amora, resolveram também encerrar os estabelecimentos e anunciar isso nas redes sociais.

O Diário do Distrito foi falar com alguns destes empresários sobre os motivos e as reações que obtiveram perante o seu posicionamento, escolhendo os que iniciaram o movimento e encabeçam a lista, no caso o restaurante Rota dos Petiscos Terra & Mar, Oficina AutoCampos, Pastelaria Ponto Azul, Pizzaria Verde & Amarelo (ver nota) e imobiliária Domus Baía, de uma lista que hoje engloba cerca de trinta estabelecimentos, de vários sectores.

«Pensem que podem abrir estes três dias e ter de fechar três semanas»

Maria Carvalho, responsável da cozinha do restaurante do filho ‘Rota dos Petiscos Mar & Terra’, lançou o primeiro ‘desabafo’ a 13 de Agosto, “altura em que o PCP afirmou que não ia abdicar da Festa, no mesmo dia em que a La Humanitá, a festa ‘irmã’ francesa anunciou o cancelamento, lancei um repto aos comerciantes para encerrarem durante os três dias da Festa, como iremos fazer.

Fiquei feliz porque logo a seguir a pizaria Verde & Amarelo anunciou o mesmo, e outros se seguiram.”

Um dos motivos que levaram a esse desafio “é porque não faz sentido os comerciantes terem de trabalhar com limitações, estarem confinados a horários reduzidos impostos pelo Governo, em que temos de ser fiscais municipais e agentes da polícia para com os nossos clientes, e depois sabermos que para a Festa do Avante! não há limitações.

Ninguém acredita que vão cumprir com as medidas da restauração em que apenas podemos servir bebidas a quem está a comer, não ter grupos superiores a dez pessoas, distâncias entre as mesas de pelo menos dois metros, que reduziram a lotação da minha sala a menos de metade, e que haja limitações de horários para servirem bebidas e comida.”

Maria Carvalho relembra que “há pessoas a passar fome porque são como as cigarras, amealham no Verão para sobreviver no Inverno, como pequeno e micro-empresários, técnicos de audiovisuais e artistas, e este ano não puderam trabalhar porque as feiras, festas e afins não foram realizadas, bem como os bares e discotecas, que não podem trabalhar com o horário que o Governo impôs.

Também é por esses que temos o dever de lutar, que estão a passar fome e esquecidos do Estado, que é pior que ter um sócio” desabafa.

“Leva-nos cinquenta por cento de tudo o que ganhamos, nos impostos, taxas e tudo o que pagamos de forma exorbitante e não satisfeito com isso, ainda determina e reduz o horário entre as 10h00 e as 20h00 e coloca os agentes da autoridade, muitos deles iletrados perante as leis que foram surgindo, a vigiar os comerciantes na hora de fecho.”

Esta é outra das queixas de Maria Carvalho, o facto de ter tido a presença constante das autoridades no estabelecimento “porque não queriam entender os horários que podíamos cumprir. Chegou ao ponto de ter aqui a polícia três vezes e isso só parou quando fiz queixa ao Comando Nacional da PSP.”

Voltando ao encerramento no primeiro fim-de-semana de setembro, Maria Carvalho frisa que “quero que fique claro que não sou contra a Festa do Avante!, acho que todas as festas e feiras deviam ter-se realizado e os bares e discotecas abrir, com as devidas medidas de segurança e proteção impostas.

O que não podemos ter é modelos de excepção, partindo do princípio que é um evento político, quando toda a gente sabe que é um festival de música, cultura e gastronomia e têm lá uns indivíduos que vão debitar uma cassete que já ninguém ouve. E sei isto porque também vou à Festa do Avante!.”

Desde que fez o apelo público no seu perfil pessoal do Facebook, “que foi partilhado mais de 130 vezes e com quase trinta mil visualizações” não deixou de receber mensagens.

“Praticamente todos os que comentaram, e foram milhares, aplaudem a nossa atitude, e muitas que não conhecem o espaço garantem que pelo meu gesto fazem questão de vir cá com a família.

Claro que recebi mensagens a dizer coisas como «não gostas de comunistas porque estás rica e garantidamente não iremos à tua casa» ou um simpático «espero que sejas muito feliz mas que gastes o dinheiro rapidamente», mensagens acolhedoras que mostram o verdadeiro espírito democrático dos seguidores do PCP.”

Agradece a quem lhe deu apoio “porque as pessoas também percebem que fechar três dias, depois de tanto tempo de encerramento forçado por causa do confinamento, é um sacrifício muito grande e nos anos anteriores eram sempre dias de muita clientela.

Mas como não acredito que haja qualquer tipo de controlo de quem vem à Festa, seja com trinta mil ou com cinquenta mil pessoas, não vou arriscar porque tenho de proteger quem aqui trabalha e os meus clientes.

Somos uma empresa familiar, e trabalhamos todos aqui. O que aconteceria em caso de um de nós ser infectado? Erámos obrigados a fazer o confinamento, os meus filhos, as minhas noras, o meu marido, e os nossos negócios teriam de fechar.

Não quer dizer que estamos totalmente livres de ser infectados, embora cumprindo todas as regras da DGS desde o dia 6 de Junho que abrimos, mas até agora não temos nenhum caso nem registo de qualquer dos nossos clientes ter sido infectado.

É uma questão estatística, a probabilidade de entrar aqui pessoas de todo o país, onde há surtos, que estejam assintomáticas.”

Maria Carvalho deixa um repto aos comerciantes da zona: “pensem que podem abrir estes três dias e ter de fechar três semanas por causa da Festa do Avante!. Somos nós que temos de nos salvaguardar e sei que a lista dos que me seguem continua a crescer nas redes sociais. Depois há os que, pela sua linha política ou por medo de represálias não o farão, mas isso fica com as suas consciências.”

«a minha revolta prende-se com a situação do covid19»

Com uma oficina junto a uma das antigas entradas na Festa do Avante, e ponto de chegada de milhares dos que usam os transportes públicos, Pedro Campos, da Oficina AutoCampos, foi também dos primeiros a anunciar o encerramento.

“Os motivos que me levam a encerrar são poucos, mas para mim são os mais válidos.

A minha ‘montra de loja’ é a que se vê, da oficina e todos os anos, a semana da Festa do Avante! não é rentável para mim, algo a que já me habituei, porque além dos meus clientes precisarem de uma autorização especial para passarem as ‘fronteiras’ que nos impõem, se eu tiver de sair para ir buscar uma peça, tenho de passar por quatro ‘postos de fronteira’.

Por isso sempre optámos por trabalhar apenas no sábado de manhã, porque o meu funcionário e mesmo eu, depois íamos para a Festa.

Nesta altura, programo sempre as marcações e os clientes por vezes deixam-me aqui o carro um ou dois dias antes.”

Apesar de passar por esta situação desde que tem a oficina na Medideira, “porque tinha noutro ponto da freguesia de Amora, mas também era sempre uma complicação porque estacionavam ao portão e nem se preocupavam se tinha de sair ou entrar com o carros”, Pedro Campos resolveu encerrar este ano.

“Este ano a minha revolta está presa também com a situação do covid19.

Qualquer pessoa sabe a enorme quantidade de gente que passa aqui na Medideira a pé. Não é de carro porque esses passam e estacionam nos parques, mas há os que vêm de transportes ou deixam os carros longe. E nessa caminhada, quantas contaminações não podem fazer?

Sou diabético tipo 1, vou ficar sujeito a contaminação até da malta que passa aqui nas bombas para comprar tabaco? Claro que agora também o posso ser, mas…”.

Durante o período de confinamento esteve encerrado apenas uma semana e meia e reabriu mercê do regime de excepção das oficinas para garantir assistência aos carros de emergência e de primeira linha.

“Mas foi o meu empregado que voltou a trabalhar, sempre por marcação, porque eu estive em casa, uma vez que pertenço a um grupo de risco. Como é óbvio, não quero voltar a arriscar.”

Também Paulo Campos não ficou isento de alguns ‘mimos’ enviados pelas redes sociais quando anunciou que iria encerrar.

“Recebi umas quantas mensagens menos agradáveis, até de pessoas que conheço toda a vida, que foram meus amigos da juventude, mas isso é o que menos me afecta, porque tenho o direito de mostrar a minha revolta com tudo isto.”

«Não vamos colocar os nossos trabalhadores em risco»

A imobiliária Domus Baía também foi das primeiras a anunciar que iria encerrar durante este período, e ao Diário do Distrito José Carlos Pereira explicou que “embora a nossa atividade não seja de contato direto ao publico alvo da festa, optamos por fechar as instalações e ficar em regime de tele-trabalho”.

Sobre as razões do encerramento explica que “não podemos colocar os nossos colaboradores em risco com qualquer tipo de contato com pessoas que venham à referida festa, seja nos locais que habitualmente frequentam, nomeadamente os locais onde tomam o pequeno almoço e almoço, bem como o local das nossas instalações, que todos os anos é utilizado pelas pessoas que se deslocam à festa do Avante para estacionar as viaturas.”

Além da segurança, o responsável afirma que também “quisemos demonstrar que estamos solidários com todo o comercio local, nomeadamente da cidade de Amora, principalmente aquele que mais riscos corre, como por exemplo, restauração e supermercados”.

«Para ganhar dinheiro temos de ter saúde»

Dina Freire, responsável da Pastelaria Ponto Azul, foi peremptória: “Não há condições. O meu marido é diabético e está incluído nos doentes de risco, por isso não podemos ficar aqui.

No meio de uma epidemia destas não vamos atender pessoas que vêm de todo o país.”

Também este estabelecimento foi alvo de mensagens via redes sociais quando anunciou o encerramento, conforme refere Dina Freire.

“Há pessoas dizem que não precisamos de dinheiro, mas é mentira. Nós precisamos, mas para o ganhar temos de ter saúde. Não é nada contra o partido, cada um sabe quem apoia.”

A lista dos estabelecimentos tem vindo a ser divulgada nas redes sociais, constando desta a Pizzaria Verde & Amarelo; Imobiliária Domus Baía; Pastelaria Ponto Azul; Restaurante Rota dos Petiscos; Oficina Auto Campos; Pastelaria Tão Bela; Hamburgueria Coquis Burger; Papelaria Avenida; Mini Mercado Martinho; Salão de Beleza “Beleza Pura”; Aida Figueiredo Cabeleireiros; Restaurante João d’Ourique; Salão de Estética Cali Beauty; Pastelaria Delícia; Pastelaria Tropicalia; Frutamora Mercearia de Bairro; Ana Paula Esteticista; Café Geladaria Creperia Baranita; Pastelaria Cosmópolis; Pastelaria Ponto Verde; Café David; Gráfica Antel; Gráfica Antel 2; Gelataria Bianco; Restaurante Taberna d’ Amora; Pasteleira a Planície; Escritório Canhola Seguros; Iceburger; Gelataria Bianco Amora; Clínica de Estética Riqueza das Velas; Pastelaria Outra Época; Marisqueira O Pinto; Pastelaria Novo Capítulo; Cervejaria Venezuela; Pastelaria CR; Café Bcoffee; Espaço Reyel – Associação Arte, Educação e Terapias; Café Serpente; João Rocha Negócios Imobiliários; Café d’ Avenida; Na Brasa Grill; Lojinha de Costura e Restaurante Normand.

NOTA: o Diário do Distrito tentou contactar os responsáveis da Pizzaria Verde & Amarelo, uma primeiras empresas a anunciar o encerramento, mas não foi possível obter uma declaração dos responsáveis.


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comentário

  1. Estão no seu direito!… Mas só deveriam abrir dia 20 ou 21/09/2020 pois a incubação leva 14/15 dias a manifestar-se. SÓ ASSIM SE PODERÃO CONSIDERAR SEGUROS!
    A ser verdade que só o fazem com medo de infecção pelo COVID19, tenham a coragem de assumir isso exactamente e abram apenas dia 20 ou 21 de Setembro, pois só aí estarão tranquilos porque passaram os 14 a 15 dias do surgimento dos sintomas de quem foi realmente infectado.

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