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Caso de violência doméstica: “Bateu-me a mim e agora bate no meu filho”

“Sofria de agressões físicas já quando estava grávida. Fui parar ao hospital três vezes”, conta Marta (nome fictício), moradora no Seixal, ao Diário do Distrito, num caso de violência doméstica. Tal como ela, o seu filho, menor de idade, também é vítima às mãos do agressor.

Marta vivia com o seu companheiro, que ao princípio não revelava atitudes agressivas. No entanto, a partir de uma certa altura, começou a ter comportamentos abusivos de forma verbal e física. “Desqualificava-me como mulher na rua, e na primeira agressão agarrou-me pelo pescoço”. Além disso, Marta refere que o agressor comprava e escolhia as roupas que ela iria usar diariamente, “até mesmo a roupa interior”, fazendo-a passar por “momentos dolorosos”, quando este a obrigava, por exemplo, a utilizar sapatos com números inferiores aos que calçava, para a fazer sofrer.

 “O meu ordenado era depositado na conta dele. Não me deixava sair de casa”

Não ficou por aqui. O agressor utilizou várias manobras para fazer de Marta a sua prisioneira. “O meu ordenado chegava a ser depositado na conta pessoal dele. Geria tudo, eu não tinha dinheiro para nada, nem para comprar pensos higiénicos. Chegou a um ponto que fui obrigada a realizar fantasias sexuais que ele tinha, e até me obrigou a lamber a sanita”.

Marta fez queixa à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), já gravida de 7 meses, mas não tinha maneira de comparecer na reunião que foi marcada com a entidade. “Não me deixava sair de casa para nada, nem podia ver os meus pais sem ele vir comigo, e estava sempre perto de mim. O meu telemóvel não estava contactável, era uma prisioneira”.

A partir do momento que o filho do casal nasce, a criança passa a ser o alvo do agressor. Já separados, Marta conta que o ex-companheiro “recolhe a criança” e proíbe-a de a ver. “Deixava-me apenas ver o meu filho às vezes, durante umas horas, e dizia-me para ficar quietinha e caladinha”. A vítima acrescenta que “via a criança quando ele queria. Fez isto durante três meses”. Marta revela ainda que o tribunal atribuiu a guarda do filho ao agressor, pois este conseguiu “manipular testemunhas, para fazerem com que eu fosse a culpada. Ele dizia várias vezes que eu não estava bem mentalmente e que era desequilibrada”.

“Continua a agredir a criança, apertou-lhe o pescoço e espetou-lhe as unhas”

A criança ficou ao encargo do pai, e este “continua a agredi-la. Uma vez apertou-lhe o pescoço e espetou-lhe as unhas para fazer mais pressão, na zona da carótida. A medicina legal também já viu as marcas. Bateu-me a mim e agora bate no meu filho”, afirma Marta, referindo também que os factos estão documentados no inquérito que decorre na secção do DIAP há mais de um ano. “O meu filho explicou tudo o que aconteceu às autoridades competentes e as entradas nas urgências também estão documentadas, mas o Ministério Público nunca o acusa, apesar de ter também o conhecimento dos factos através de um menor”, explica.

Marta conta que “o tribunal pede informações ao DIAP, mas a única coisa que dizem é: está tudo em investigação. Não consigo perceber”. Contudo, não é apenas com a ex-companheira e com o filho que o agressor tem estes comportamentos. Marta revelou ainda que este já foi a julgamento por ter atitudes violentas com o próprio pai. “Agrediu o pai dele, que tem cancro e anda em tratamentos, e não quis responder em tribunal. Mesmo assim, anda na rua de cara limpa, como se nada tivesse acontecido”.

A vítima esclarece que está neste momento a escrever um depoimento com todos os pormenores das agressões que ela e o seu filho sofreram, para entregar às autoridades competentes. No entanto, o caso parece não ter uma resolução a curto prazo, apesar das denúncias feitas por Marta. Este é mais um exemplo dos diversos casos de violência doméstica que acontecem diariamente em Portugal e no mundo, e que ainda não tiveram resolução.

Se sofre de violência doméstica, fale e peça ajuda:

Linha de Apoio à Vítima – 116 006 (gratuito) – Dias úteis 09h-21h

Linha Internet Segura – 800 219 090 – Dias úteis 09h-21h


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