Opinião

Até onde vai a bondade humana?

Esta semana, um artigo de opinião de Sónia Alves, sobre a bondade e o seu real alcance.

Ao percorrer o “feed” de notícias numa conhecida rede social, deparo-me com o seguinte título de uma noticia: “Foram devolvidas 53 crianças adotadas nos últimos 3 anos.”

Entre a surpresa e o choque surgiu a questão: até onde vai a bondade humana?

Em primeiro lugar fui procurar saber o que é a bondade.

Parece uma pesquisa descabida, porque é mais que sabido em que é que consiste a bondade.

No entanto, dada a complexidade, a incoerência e imperfeição humanas é preciso analisar esta característica sobre uma noção de base inquestionável: “Bondade é uma característica daquele que tem inclinação para o bem. (…) qualidade das pessoas que praticam boas ações.” E desenvolvê-la a partir daí.

Porque a bondade é passível de ser relativizada. Mas a pesquisa que fiz, diz ainda: “Ter bondade é ser benevolente, ser amável, é procurar ajudar o outro. Benevolente significa demonstrar bondade ou boa vontade em relação às outras pessoas.”

De facto devia de ser assim. Mas hoje em dia a bondade humana serve sobretudo o egoísmo em detrimento do altruísmo. A bondade é moldada pelo juízo critico e pelos interesses sociais e não é de todo linear. Reveste-se por vezes de um lado perverso e distorcido usado em várias valências sociais e culturais.

Senti na pele isso mesmo este ano quando enfrentei um problema com o meu filho em relação às condições de salubridade de uma escola básica onde ele foi colocado. Perante tais condições, surgiram as consequências da exposição ao meio:  desenvolvimento de asma.

Resolvi denunciar a situação não só nas entidades competentes, mas também nas redes sociais. Numa primeira fase para acautelar danos, noutra fase para partilhar a minha indignação pelos danos causados.

E incompreensivelmente fui bombardeada de críticas e humilhada publicamente por pais que têm os filhos a estudar na mesma escola. Pais que alguns deles praticam a solidariedade nas ruas ajudando pessoas sem abrigo. Que mostram ser benevolentes, e acreditam na bondade e na ação de uma Entidade Divina.

Deixam de o ser a partir do momento em que ridicularizam e humilham os seus pares numa questão válida e que configura um problema de saúde pública. São capazes de se indignar pelas questões materialmente mais fúteis, sempre guiados pelo seu juízo critico ou pela falta dele. É aqui que podemos relativizar a bondade. Entram em conflito com as próprias crenças e com aquilo que elas ditam. É aqui que tocamos a incoerência e a imperfeição do ser humano.

Temos pais adotivos que devolvem crianças como se fossem pares de sapatos com defeito. Também temos filhos adotivos que fazem mal aos seus pais adotivos. Isto também é verdade para os elos biológicos.

Ser benevolente pode ser uma questão de moda, uma questão de marketing, uma questão de autopromoção e de conveniência. É uma característica manchada de forma reiterada pela hipocrisia que de forma irrefletida é praticada. Tentamos constantemente ser socialmente enquadráveis com medo do juízo, mas facilmente se esgrimem juízos de valor que destroem qualquer intenção ou inclinação para a bondade que há em cada um. É tão incoerente que nem se perde muito tempo a pensar sobre isso.

A bondade está diretamente relacionada com o sentimento de culpa quando se está sobre a pressão do olho social. A menos que alguma patologia psiquiátrica anule essa Consciência. Quando se está isolado da sociedade a bondade é totalmente arbitrária. Se não trouxer qualquer tipo de benefício, vale o que vale.

Para concluir, diria que a bondade humana vai até onde os interesses individuais não sejam prejudicados, vai até onde a formação do juízo critico permite e o movimento cultural obriga.

Dá que pensar!


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