Opinião

Aprender a (con)viver e sobreviver nesta nova era!

Neste momento das nossas vidas não nos adianta negar que vamos ter que aprender ou reaprender como agir e como fazer a gestão de diversas actividades do nosso quotidiano.

Um programa muito habitual , um hábito muito arreigado dos Portugueses, como a simples ida ao Centro Comercial para escolher aquela peça de roupa que nos apetece ter, ou de que precisamos, procurar numa livraria as mais recentes novidades literárias, levar para casa aquele par de sandálias de que se calhar nem sempre precisamos, mas que despertaram em nós um amor à primeira vista (todas as senhoras vão entender-me na perfeição, em especial se como eu forem viciadas em sapatos), ou uma simples paragem para beber um café e saborear um pastel de nata para descontrair e meter a conversa em dia tornou-se algo que não consegue ter a espontaneidade nem a descontracção de outros tempos não assim tão distantes.

Volvidos quatro meses sobre o início da pandemia e agora em fase de desconfinamento gradual, quando passamos de calamidade para contingência, por maior que seja o esforço que façamos, confesso-me incapaz de encarar de ânimo leve a convivência com tantos espaços que me eram queridos e que, naturalmente, eram inerentes ao meu dia a dia.

Foi com espanto comigo mesma que há pouco tempo me confrontei com a percepção e sensação de estranheza e até de receio irracional de percorrer um centro comercial, com as lojas quase a encerrar (e outras encerradas). Algo em mim bloqueou a coragem de entrar em lojas de roupa bastante amplas que garantem as necessárias precauções, algo em mim bloqueou a coragem e a imensa vontade de regressar ao interior de uma livraria, após tanto tempo, e de ali fazer cumprir o habitual ritual tão meu de procurar umas novidades literárias e de, a seguir, mergulhar na estante dos livros técnicos de Direito. Diria que a sensação foi muito vívida e foi de medo ou receio.

Nos olhares de tantos funcionários dos estabelecimentos comerciais, cuja face se esconde atrás da máscara, escondem-se certamente angústias semelhantes à minha e outras bem mais assustadoras, pois esta nova realidade e a forma como consigamos adaptar-nos à mesma condicionará o próprio futuro de tantos destes postos de trabalho. Ciente, por deformação profissional, das implicações financeiras em termos de encargos com funcionários e com a lógica de lucro de marcas e de todos os negócios em geral, não posso deixar de pensar que o receio de perder o seu posto de trabalho e até o pequeno negócio que com sacrifício de construiu são fantasmas bem reais, plasmados nos olhares esperançosos de fazer mais uma venda ou, noutros casos, desiludidos perante alguns insucessos.

Vão perdoar-me a aparente futilidade, mas na essência isto acaba por ser uma metáfora do mundo como antes o tínhamos e como agora o temos: é verdadeiramente deprimente olhar um corredor de um Centro Comercial às oito da noite e ver as lojas encerradas e o quase deserto de circulação pelos corredores.

Na área de restauração, com algumas liberalidades consentidas atenta a primeira necessidade dos bens vendidos, é algo semelhante a um cenário de filme ou de investigação criminal contemplar as várias zonas amplas de convívio delimitadas e fechadas por fitas de plástico, quais cenas de crime! Surreal é talvez o melhor adjectivo.

Mas agora, sensibilidades e sentimentalismos à parte, há algo que começa seriamente a preocupar-me e cuja solução não vislumbro, tenho ouvido o receio de funcionários de perderem o seu sustento (outros já perderam, facto consumado) e é com tristeza que ouço amigos meus, empresários do pequeno comércio, antecipar que possam ter de encerrar portas ainda no decurso deste ano, porque o que ganham não está a ser suficiente para cobrir as despesas, e há famílias que dependem destes meios de subsistência.

Como vamos lidar com estas questões reais? Que soluções são possíveis? O medo, a incerteza, o reconhecimento da nossa impotência são assustadoramente reais.


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