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Ana Jorge, Beatriz Craveiro Lopes e Ana Terezinha Rodrigues homenageadas no Hospital Garcia de Orta

Hospital Garcia de Orta homenageou três mulheres

As profissionais de saúde Ana Jorge, Beatriz Craveiro Lopes e Ana Terezinha Rodrigues foram esta segunda-feira homenageadas no Hospital Garcia de Orta, por ocasião do Dia Internacional da Mulher.

As três colaboradoras do Hospital foram, em 2019, destacadas no Livro da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar, realizado por ocasião dos 40 anos do Serviço Nacional de Saúde.

O Diário do Distrito acompanhou a cerimónia que decorreu no Centro Garcia de Orta, numa sala quase exclusivamente com presenças femininas, e também via online, no cumprimento das medidas de segurança covid19, com a apresentação e condução da Dr.ª Paula Breia, neurologista.

“Em 2020 pensámos homenagear três das colaboradoras que fizeram parte do Livro que destacou 40 das mulheres com um papel relevante no Serviço Nacional de Saúde, o que não foi possível devido à pandemia.

Este ano, com as devidas medidas, assinalamos o Dia Internacional da Mulher e a primeira sessão pública desde o início da pandemia, numa iniciativa da Comissão de Humanização do HGO.”

Após a leitura de um poema de Sofia de Mello Breyner, coube a intervenção a Paula Batista, Enfermeira-Directora, que destacou o “privilégio que foi trabalhar com estas três mulheres, entre outras igualmente notáveis, e a minha vida profissional teve muito do exemplo de cada uma delas”.

“Quando em 2019 soube fui informada de que iria entrar no Livro, fiquei sem palavras” relembrou Dr.ª Ana Terezinha Rodrigues, que foi diretora do Serviço de Gestão da Qualidade & Presidente da Comissão da Qualidade e Segurança do Doente do Hospital Garcia de Orta. “Nunca teria ousado pensar que fazia parte dessa homenagem, porque há muito mais mulheres que não foram homenageadas. Hoje agradeço também por esta homenagem no HGO, neste dia emblemático.”

Relembrou alguns momentos do seu percurso e da inserção de métodos de gestão e creditação no Hospital, “porque a gestão corre-me das veias em todos os aspectos da minha vida”.

«A feminização tem vindo a acontecer na medicina»

A Dr.ª Beatriz Craveiro Lopes relembrou o sentimento de “estupefação” quando teve conhecimento da inserção do seu nome no Livro, “mas também muito agradecida, porque isso foi o reconhecimento do trabalho feito em prol da medicina da dor”.

Médica anestesista, foi fundadora da Unidade de Dor Crónica no Hospital Garcia de Orta, e recordou também o que a levou por esse caminho. “Quando o meu filho mais novo sofreu uma grave doença, e o vi passar por dores excruciantes, jurei que nunca mais ninguém meu conhecido passaria por isso sem o devido acompanhamento. É um privilégio trabalhar nesta área neste hospital que eu amo. É um privilégio gostarmos da profissão e de com quem trabalhamos. Mas também há que ter boas equipas, porque estas levam anos a construir-se mas apenas quatro semanas a destruir.

A medicina da dor era o parente pobre da medicina, a dor tratava-se com paracetamol e neste momento o HGO é uma referência neste campo.”

A médica frisou também a crescente “feminização que tem vindo a ocorrer nos serviços de saúde ao longo dos anos. “Quando comecei, no final da década de sessenta, eramos poucas mulheres na medicina, agora estamos em maioria em todas as áreas da saúde.”

No HGO desde a sua abertura, há trinta anos “este hospital que eu amo”, considera que “já sofreu uma evolução notável, mas todos os que acompanharam esse processo sabem que é uma experiência única abrir um hospital”.

Painel de oradores

«Homens e Mulheres têm um papel na sociedade, cada um com as suas particularidades»

Pediatra e ministra da Saúde de 2008 a 2011, a Dr.ª Ana Jorge salientou “o importante papel da mulher nesta profissão. Não sou feminista, porque acho que Homens e Mulheres têm um papel na sociedade e cada um tem as suas particularidades.”

Recordou ainda o facto de que “o direito ao voto para todas as mulheres apenas foi obtido após o 25 de Abril, e por isso nunca deixei de exercer esse direito. E para isso contribuiu a minha professora primária, na Lourinhã, que na altura por ser professora tinha direito ao voto, mas no ano das eleições com Humberto Delgado, apenas recebeu o boletim para votar em Marcelo Caetano, e procurou o meu pai para conseguir obter um boletim que lhe permitisse votar em Humberto Delgado.”

Foram várias as histórias recordadas pela anterior ministra da Saúde, sobretudo dos tempos pós-Revolução “quando foi criado o ‘Serviço Médico à Periferia’, uma machadada no sistema de saúde nacional e que viria a anteceder o Serviço Nacional de Saúde, e isto é algo de que, quando a minha geração fala, ainda se derrete.”

Recordou também a sua “ligação à margem sul que começou em Alcácer do Sal, e fui ainda tarefeira no Hospital de Setúbal, no tempo do PREC. Chegámos a ter de atender a vítimas de rixas, ou uma vez em Santa Susana, sermos apanhados entre guerras de trabalhadores e autoridades.”

Outro aspecto ligado ao dia assinalado foi a sua participação “na criação de consultas de planeamento familiar em Alcácer do Sal, que nasceram da ideia de uma enfermeira, e foi também ali que ajudei à criação de um Centro de Saúde Materno-infantil, para todas as crianças e mães, num edifício cedido pelo Montepio, e numa parceria com a Caixa de Previdência, algo de novo e inédito.”

No regresso ao passado, não deixou de frisar “o amor de todos os que viemos inaugurar e construir o HGO sentimos desde o início, envergando com orgulho a camisola azul-turquesa, construindo uma enorme afinidade entre todos e garantindo um trabalho em equipa.

Mãe de três filhos, dois deles gémeos, e avó de “sete netos e mais dois da minha nora”, a Dr.ª Ana Jorge foi peremptória a responder à questão de como é ‘ser mulher, mãe e avó’.

“Não sou avó a cem por cento, e na minha casa sempre houve regras, embora esteja disponível quando é necessário.”

A terminar, o Dr. Nuno Marques, director-clínico do HGO deixou algumas palavras sobre a importância do papel das mulheres na medicina e no Hospital, “e por isso não é de estranhar o porquê destas três mulheres terem sido destacadas no Livro do SNS, devido à sensibilidade e a vertente humanista ao longo das suas carreiras.

Por isso lhes agradeço também em nome do Hospital Garcia de Orta, onde as mulheres ao serviço são já uma percentagem de 56%, portanto, a maioria.”

Foram entregues hoje algumas lembranças às mulheres do HGO


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