Opinião

Almada explicada às crianças

Esta semana um artigo de Alexandre Guerreiro

O meu filho tem um conjunto de dez pequenos livros com capas de diversas cores. Quando me traz espontaneamente cada um daqueles livros diz sempre a cor correcta.

Mas como está numa idade terrível, às vezes peço-lhe para trazer um livro de uma determinada cor e ele faz questão de me contrariar: peço vermelho e ele ri-se e traz o rosa; peço o rosa e ele traz o cor-de-laranja; peço o cor-de-laranja e ele traz-me o vermelho. Isto não é metáfora: acontece mesmo!

Por vezes, dou por mim a pensar: se ele soubesse ler o que cada livro tem escrito, ia perceber que um livro não é só uma cor e diferencia-se pelo conteúdo. Cada livro é uma história.

Se ele soubesse ler, acabaria por não me dar apenas um qualquer livro à toa como se fossem todos iguais, ele saberia que cada um se diferenciaria pela mensagem e talvez me trouxesse aquela que achasse que eu gostaria mais.

Em ano de autárquicas, dou por mim a concluir que o meu filho está a dar-me uma aula de política local, mais concretamente em Almada.

Há quatro anos, o Executivo mudou de mãos. Muitos esfregaram as mãos de satisfação, achando que o concelho ia desenvolver agora que se tinha livrado da coligação comunista.

Ao fim de quatro anos, temos uma verdadeira coligação socialista formada entre o PS e um PSD que rasgou os seus compromissos eleitorais e está absolutamente confortável com os efeitos da inebriantes causados pelo acesso a pelouros e a cargos de poder.

O PSD que ao longo de mais de uma década prometeu a extinção da ECALMA (medida a que veementemente me oponho) foi o mesmo que três meses após chegar ao Executivo se apressou a tentar justificar a falta de vontade em concretizar a promessa e rapidamente passou a aprovar as contas da empresa.

O PSD que se queixara da forma como o Festival O Sol da Caparica dava prejuízo à autarquia, não só deixou de falar publicamente sobre o assunto como até já promove na sua página de Facebook a realização do Festival.

Paralelamente, o PSD que prometia a taxa de derrama em 1% é o mesmo que é incapaz de a tirar dos 1,20%. O PSD que se queixava da oferta de relógios em ouro aos trabalhadores municipais com mais de 25 anos é o que agora apoia a substituição por vouchers de viagem. O PSD que prometeu baixar o IMI é o mesmo PSD que mantém os valores de 2017. O PSD que prometeu baixar a participação do IRS para 3% é agora o que diz ter prometido “uma redução” da participação do IRS.

Chegados a 2021, o PSD não tem obra feita de relevo para apresentar. À falta de obra, em ano de eleições, o PSD paga ao Facebook para publicitar obras que pretende fazer e com as quais quer comprometer executivos futuros.

É difícil recuperar uma confiança depositada já com algum sacrifício pelos almadenses, sobretudo quando o PSD aceita sacrificar as suas promessas eleitorais para se manter no poder e viabilizar cegamente todos e quaisquer devaneios socialistas.

No fundo, o PSD dá razão ao meu filho: vermelho, cor-de-rosa ou cor-de-laranja, Almada continua igual ao que foi nos últimos 40 anos.

E é por isso que se exige a emergência de uma nova e verdadeira força política, com ideias, com projectos, sem massa partidária para empregar e ocupar a estrutura local.

Uma força diferente de tudo a que os almadenses se habituaram e que possa, finalmente, elevar Almada ao patamar devido.

Existirá alguém capaz de operar a mudança?


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