Rubrica

Abuso sexual infantil

Esta é a crónica que não devia ser necessário escrever. Versa um dos aspetos mais difíceis do meu trabalho como psicoterapeuta e um dos que mais me aflige como mulher e mãe.

Não devia ser necessário escrever sobre algo tão horrendo, mas é preciso que se escreva. Aliás, é preciso que se grite, que se denuncie e que se previna o abuso sexual infantil.

É urgente que todos saibam que a maioria dos abusos é perpetuado no seio familiar, em primeiro lugar, e na rede social mais próxima da família. O abuso sexual infantil alimenta-se da confiança da criança no adulto. Alimenta-se da sua ingenuidade e quebra algo em si, de forma irreparável.

O abuso sexual infantil também se alimenta da ignorância e do medo dos adultos. Da desigualdade, da dominância, do sexismo e de todas as discriminações que perpetuam as revitimizações.

A prevenção deste tipo de abusos assenta em uma educação para a autonomia e respeito do próprio corpo. É fundamental ensinar as crianças, logo na primeira infância, que há zonas do corpo íntimas e privadas, como os genitais, nos quais ninguém deverá tocar, nem os seus cuidadores. Uma criança de 3 anos já será capaz de realizar a sua higiene de forma minimamente adequada. Se isto estiver interiorizado, a criança dará o alerta se alguém, mesmo próximo, tentar algum tipo de contacto desadequado.

Também nesta linha de pensamento, é fundamental que os adultos respeitem o direito que a criança tem de não querer ser beijada e/ou abraçada pelos adultos, mesmo que sejam seus familiares. Defendo que não se deve forçar NUNCA uma criança a manter contacto físico, com quem quer que seja não desejado pela mesma. Estamos assim a educar sobre consentimento.

É também fundamental uma educação isenta de segredos. Na minha prática clínica, constato muitas situações em que são fomentadas as coligações e os segredos: “Isto é só da mamã e da filha”. Tal deverá ser evitado. Os abusadores alimentam-se dos segredos, das cumplicidades e da sedução.

Por fim, o mais importante: acredite nas suas crianças! Por mais terrível que possa ser o que esta lhe revela, quiçá até sobre o suposto amor da sua vida, não duvide e valorize eventuais alterações comportamentais, tais como: regressões, enurese e encoprese, comportamento erotizado, masturbação excessiva, surgimento de medos, agressividade, labilidade emocional e recusa em permanecer sozinha em contextos e com pessoas em que tal era habitual.

O abuso sexual infantil é uma realidade. Proteja as suas crianças, educando-as pelo e para o respeito, do seu corpo, da sua vontade e do seu sentir. Em caso de dúvida, não hesite em procurar a ajuda de um profissional e em denunciar a situação. Vença o medo e lute!


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