A sexualidade da Mulher
Como terapeuta de casal e especialista em sexologia, tenho verificado que a sexualidade da mulher constituirá um dos maiores tabus no meu trabalho clínico, com homens e mulheres de várias gerações.
Dos 20 aos 80 arrisco dizer que esta é uma das temáticas em que preconceitos se cruzam e na qual prevalece ainda uma moral cujos alicerces continuarão a ser a culpa, a vergonha e a reparação de ambas.
O direito da mulher ao prazer continua a ser negado de geração em geração. A educação ainda não contempla a masturbação, enquanto prática saudável de autoconhecimento e descoberta, do próprio corpo e do prazer.
Clitóris mantém-se palavra interdita no léxico de muitas famílias. O perpetuar deste silêncio aprisiona muitas mulheres na ignorância e mantém o mito do orgasmo vaginal e do fingimento do mesmo.
As meninas continuam assim a crescer com pudores que as impedem, muitas vezes, de viver uma sexualidade plena e prazerosa. Que as impede de mostrar desejo, pois, se o fizerem, serão vistas como pouco dignas e de menor confiança.
A mulher mantém-se ainda, demasiadas vezes, submissa ao desejo do parceiro e vive assim uma sexualidade sem entusiasmo, sem espontaneidade, cujo único colorido será dar prazer ao outro e cumprir com mais uma das suas, inúmeras, tarefas como mulher.
As minhas palavras poderão causar estranheza a alguns, que desconfiarão que a realidade que descrevo não será deste século. Quem me dera que assim fosse!
Mas, infelizmente, a minha prática clínica, o debate com outras colegas e o corpo teórico nesta área, demonstram o contrário: apesar de muitos progressos, há ainda um longo caminho a percorrer no que concerne ao direito da mulher a uma sexualidade plena e livre de preconceitos que a impedem de aproveitar plenamente o ato sexual, que limitam as suas escolhas e as suas experiências. Que a impedem de escolher, de tomar a iniciativa e de mostrar, livremente, desejo sexual.
A crónica desta semana é inspirada e dedicada a todas as mulheres com quem tenho trabalhado, que arriscaram mudar, venceram barreiras intra e interpessoais, encetaram uma viagem de autoconhecimento, de descoberta do próprio corpo e se entregaram ao prazer.
Pelo prazer, sem culpa. Em liberdade.
Pela liberdade de ser, de sentir e de se amarem. Grata pela confiança de cada uma!
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