AtualidadeDistrito de Vila Real

À memória de Rose | A jovem que nasceu Rúben, sem nunca o ser

O título podia ser: Uma jovem cometeu suicídio em Mateus, distrito de Vila Real.

Sim, uma jovem. O mínimo que se pode agora fazer para respeitar a identidade da Rose é chamá-la pelo seu nome. Não pelo que lhe deram.

Rose decidiu terminar com a sua vida na passada terça-feira. O motivo? Transfobia. Que é um crime de ódio.

O suicídio de Rose, que nasceu Rúben, terá sido fruto do constante bullying que sofreu por ter vivido “num corpo que não lhe pertencia”, como salientou Marta Susana, na rede social Facebook.

Rose, que ainda tinha o nome de Rúben, era constantemente “alvo de chacota” por pessoas que a rodeavam “apenas” por exprimir a sua identidade de género.

“Uma sociedade que vive de felicidade podre, de hipocrisia e aparência. Espero ser viva para assistir a uma sociedade sem preconceito e maldade”, lamentou outra usuária daquela rede social.

Recorde-se que, em Portugal, a transfobia constitui um crime contra “o direito à autodeterminação da identidade de género”.

“Até quando ainda vamos escutar que azul é de menino e rosa de menina? Até quando ouviremos que menino tem que ser homem e não pode chorar e que menina tem que seguir as regras de comportamento?”, questiona uma conhecida da vítima.

Citando uma resolução da Presidência do Conselho de Ministros:

“Todas as pessoas são livres e iguais em dignidade e direitos, sendo proibida qualquer discriminação, direta ou indireta, em função do exercício do direito à identidade de género, expressão de género e do exercício do direito à proteção das características sexuais.”

Muitas vezes as leis não passam do papel. Talvez a Rose não conseguisse entender que podia ser protegida. Acolhida. Amada. Pelo menos, respeitada.

“O Rúben foi vítima de uma sociedade narcisista! O Rúben tive o azar de nascer num mundo onde os pais não ensinam aos filhos o que é EMPATIA!”, lamenta Marta Susana na mesma publicação.

De facto, também no sector da Educação, é dever do Estado “garantir a adoção de medidas no sistema educativo, em todos os níveis de ensino e ciclos de estudo, que promovam o exercício do direito à autodeterminação e expressão da identidade de género e do direito à proteção das características sexuais das pessoas”, como previsto no citado artigo 12.º, n.º 1, da Lei n.º 38/2018.

O funeral da Rose, que nasceu Rúben sem nunca o ser, realizou-se às 11h00 deste sábado, dia 29 de janeiro, na Igreja Paroquial de Mateus – Vila Real, tendo sido depois sepultada no cemitério local.

Legalmente, e até religiosamente, o funeral foi o do Rúben. Apesar do Rúben não ter sequer existido. Terá sido o funeral de (mais) um jovem que cometeu suicídio. Foi chorado (mais) um rapaz que não aguentou ser quem era.

Na realidade, hoje foi a sepultar (mais) uma jovem. Que um dia, na sua lápide, conste o seu nome: Aqui repousa, finalmente em paz, Rose Cordeiro.


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3 Comentários

  1. “O mínimo que se pode agora fazer para respeitar a identidade da Rose é chamá-la pelo seu nome” No entanto o seu nome de nascença (chamado deadname ou nome morto) que eu não vou referir aparece 8 vezes neste artigo incluindo no título. Parece-me que sendo que a invalidação da identidade desta pobre rapariga foi o motivo que a levou à sua trágica decisão, este artigo tem de ser corrigido por ser no mínimo incongruente, eu diria extremamente desrespeitoso. Sugiro não mencionar o nome no título, se absolutamente necessário mencionar uma só vez no início do artigo, e nas cotações usar [Rose] para tornar claro a quem a citação se refere, e usar claro os pronomes e nome correcto. Há muita informação de como escrever artigos sobre pessoas trans no rescaldo do coming out do Elliot Page. Percebo as vossas boas intenções, e a idea de clareza mas com um pouco de informação e respeito, e uma “pequena” correcção podem salvar vidas como a da Rose mudando a maneira como falamos destas crianças. #digamonomedela

  2. O deadname (nome legal) não vem ao caso nem deve ser referido. Sempre que se partilha um texto, post ou imagem com o deadname (nome morto) de uma pessoas trans ou não-binária, e se lhe faz, dessa forma, misgendering (trocar do género) , é como matá-la de novo. Só o seu verdadeiro nome importa, só o seu género verdadeiro importa, Apenas ROSE importa. O resto não passa dos enganos que lhe colaram – e impuseram – à nascença. Mesmo que com a melhor das intenções, e para reafirmar que o deadname não é o seu nome verdadeiro, é escusado e muito desnecessário insistir em referi-lo novamente. A verdade agradece
    .

  3. Rose é o nome. No artigo deveria vir unicamente e só o nome Rose. Referir o deadname é estar a matar a Rose…

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