A ignomínia

Começo este texto com uma premonição, não existirão eleições antes de 2023.
Esse cenário não beneficia ninguém, desde logo o Partido Socialista, sem maioria absoluta à vista, perdido que está o apoio do Bloco de Esquerda (pelo menos aparentemente) e depois do resultado das presidenciais, eleições agora significariam um enorme risco, até porque o Partido Comunista Português será, previsivelmente, um dos que mais sofrerá nas urnas.
Na perspectiva de BE e PCP, eleições agora apenas confirmariam o que as presidências já fazem prever, estes são os grandes prejudicados da “geringonça.”
À direita o cenário não é diferente. PSD não tem estratégia, não tem rasgo e não tem líder, se o poder lhe caísse agora no colo não saberia o que fazer com ele, e pior, seria o PSD a ter que lidar com a crise brutal que se avizinha, Rio tem muitos defeitos, mas já cá anda há demasiado tempo para perceber que esta não é a melhor altura para ser primeiro-ministro.
O CDS continua o seu caminho de pedras, entalado entre Iniciativa Liberal e CHEGA, perdido em guerras internas pelo poder, a actual liderança é incapaz de marcar a agenda política. Adolfo Mesquita Nunes pode ter chegado tarde demais, para si próprio e para o partido.
Aparentemente, eleições antecipadas apenas beneficiariam os novos partidos, Iniciativa Liberal e CHEGA, esta é a razão pela qual, em minha opinião, elas não existirão. Partindo do princípio que a premissa da qual parte este texto está correcta as eleições legislativas serão apenas em 2023, que maioria escolherão então os portugueses?
A actual maioria está esgotada, como diria António Guterres, estamos no “pântano”, os casos sucedem-se, escuso-me de os enunciar a todos, ficando-me pelo caos na saúde e na questão das vacinas.
O governo que os portugueses escolherem em 2023 depende do que acharem desta ignomínia, na saúde é por demais evidente que o governo falhou, a face mais visível desse falhanço é o comboio de ambulâncias à porta dos hospitais, as transferências de doentes de hospital em hospital por falhas no fornecimento de oxigénio de alto débito e a exasperação da ministra de saúde cada vez que alguém ousa pedir-lhe responsabilidades.
A forma como decorre o processo de vacinação é absolutamente indescritível e merecia, por si só, a demissão do governo. Os critérios definidos para eleger quem deveria ser vacinado primeiro não servem para nada, mais uma vez, à boa moda portuguesa, o que interessa é quem conhece a pessoa certa, quem tem o amigo certo, quem está no lugar certo para benefício de si próprio, família e amigos.
Em 2023 os portugueses terão a oportunidade de se pronunciarem sobre o que acham de tudo isto, se insistirem numa maioria de esquerda liderada pelo PS, então lamento, temos o que merecemos. Merecemos a incompetência, a prepotência, a arrogância, enfim, a ignomínia.
Mas a responsabilidade não será inteiramente dos portugueses, a oposição terá de fazer mais. À direita, apenas a Iniciativa Liberal tem procurado romper o marasmo em que o país se encontra, apostada em fazer uma oposição com base em propostas sensatas e exequíveis, aponta um caminho de mudança, avessa a radicalismos e aventureirismo.
As eleições legislativas serão apenas em 2023, mas as autárquicas são já amanhã, o tempo está a contar.