Opinião

30 duros dias

Trinta são os dias, iniciados em 26 de Junho, de um desafio alimentar que me colocou – e ainda coloca – à prova.

O famoso Whole 30 é um programa ou regime alimentar restrito, temporário, Paleo, onde a mínima cedência que afecte o protocolo implica regressar à casa da partida, isto é, ao reinício do programa.

Nestes duros 30 dias o organismo sofre um verdadeiro reset e sofre, de igual modo,  transformações extraordinárias, destacando eu nestas a saúde e, naturalmente, o aspecto físico.

Vamos por partes.

No final de Maio escrevi um artigo no Diário do Distrito sobre a alimentação Paleo e seus benefícios. Hoje, volvido pouco tempo, volto a destacar o tema cingindo-me, contudo, a este desafio.

Cronologicamente, em tempos não distantes estive com um peso elevadíssimo, um IMC de 36,6 que equivale a Obesidade Grau II. Em Dezembro tomei a decisão (a decisão, não uma decisão) de alteração do meu regime alimentar. Mas prevaricava regularmente, o que não conferia resultados. E quando não temos resultados, desanimamos. E em estado de desânimo prevaricamos ainda mais, alegando que não resulta, ou que não se consegue, ou que será em vão que se fazem sacrifícios. Isto não corresponde à verdade e sou eu, que o dizia, quem agora atesta.

Há dias fiz um vídeo e disse, com mediana clareza, que quem está “casado” com o Paleo não pode dormir com a “amante” (aqui em representação dos alimentos proibidos). Ou uma ou outra porque ambas, na verdade, são inconciliáveis. Com isto quero dizer que é impossível ter resultados quando cumprimos imaculadamente a alimentação no decorrer da semana, mas prevaricamos ao fim de semana, eliminando qualquer possibilidade de consequências positivas.

No final de Junho entrei no desafio Whole 30. Quis experimentar-me. Conseguiria?

Escrevo estas linhas ao 27º dia e, a poucos dias da meta, não cedi uma única vez. Fui obstinado. Neste hiato temporal, estive presente em dois aniversários e quatro “jantares sociais”. Não bebi uma gota de álcool, não provei um grama de bolo de aniversário, não comi uma colher de uma qualquer sobremesa, não comi um bago de arroz, uma batata, uma rodela de chouriço. Zero!

O Whole 30 é muito restritivo. Não são permitidos açúcares, cereais, lacticínios, farinhas, álcool, entre outros. Quiçá seja preferível e mais acessível escrever o que entra no protocolo. Entram as proteínas, nomeadamente a carne, peixe, ovos, os legumes, as frutas, os vegetais, a água em abundância. Mas também marisco, as gorduras boas como seja o azeite virgem extra (que sacia extraordinariamente). Entram os frutos vermelhos e as nozes, mas também as avelãs. O atum em azeite. As azeitonas galegas, que compro na praça ao Sábado.

Nunca por nunca passei fome nestes dias. No início, custou-me particularmente o princípio da noite. Todas as noites tive necessidade de “afogar o rato” com chá quente. Mas o estômago do glutão começou, paulatinamente, a habituar-se a uma nova realidade e, mais à frente, a situação ficou pacificada.

Escrevi acima princípio d anoite por uma razão. É que no Paleo não se cumprem as horas definidas para as refeições. No Paleo, por muita inconveniência que faça, deve-se comer somente quando se tem fome.

A par da alimentação, neste percurso é muito importante o exercício físico. Mais não seja, caminhar.

Nas redes sociais há um grupo sério, que muito prezo, de pessoas extraordinárias que me ajudaram e ajudam neste caminho. Falo do grupo Na Cozinha Paleo com a Evans. Quer a Evans, quer as moderadoras, são pessoas inexcedíveis e extraordinárias.

Se as pessoas que me lêem tiverem vontade de aprender sobre o Paleo, mudar hábitos, aprender a comer comida de verdade, erradicar alimentos nocivos, processados ou más gorduras, tem este grupo magnífico que a todos ajuda sem contrapartidas.

Podemos estar no grupo com duas atitudes legítimas. A primeira, como voyeurs. Conheço amigos que me dizem estar no grupo para ver, para ler, para aprender a mudar ingredientes numa refeição ou outra; a segunda, numa postura determinada, numa postura de quem lê, aprende e executa.

Na Cozinha Paleo com a Evans é um grupo Primal, isto é, um grupo cuja filosofia Paleo é mais permissiva. Por exemplo, alimentos há que não entram no Paleo restrito, mas que, ainda que pontualmente, podem ser ingeridos no Primal.

E foi precisamente neste grupo que iniciei o Whole 30, sob a supervisão da Catarina Russo a quem, publicamente, agradeço a paciência e os ensinamentos.

Confesso que, depois de muitos anos em médicos, nutricionistas, de muito dinheiro gasto em medicação e alimentos específicos, que resultaram em frustração, encontrei neste grupo e com estas pessoas o meu caminho.

Actualmente não sei o meu peso. Faz parte do protocolo não medir ou pesar até terminarem estes 30 dias. Direi que me medi e pesei no dia em que iniciei. E no fim farei comparações. Sem embargo, estou a ser monitorizado e a informação que tenho é, a nível de IMC, estar a 2,1 de entrar na categoria de “excesso de peso”, tendo saído de Obesidade II e estando prestes a sair de Obesidade I.

Com as sentidas transformações, não comprei roupa, mas comprei um cinto porque o anterior estava trilhado (apertei 3 buracos). As dores na coluna reduziram brutalmente. A energia aumentou. Entre outras mudanças visíveis. Mas o que mais agrada são as que não se vêem: a saúde. Posso quantificar? Não. Mas sei que o meu organismo agradece todos estes cuidados.

Paralelamente – e isso fez-me bem – leio o livro A dieta do Paleolítico, do dr. Loren Cordain.

Cordain defende o Paleo restrito, o que me agrada. Porquê? Porque nele vi resultados. Mas em rigor, porque o cumpri. Fique claro.

Mas não o quero absoluto, como nestes 30 dias. Quero ter, doravante, a liberdade de ter uma alimentação restritiva, sim, sem embargo de pontualmente prevaricar, comendo um queijo, bebendo um vinho, ou assumindo outras opções que me estão vedadas, por ora. Ou seja, fazer um Paleo restritivo conjugado com Primal. E sim, é possível. Esta escolha, face aos excelentes resultados tidos, será o meu caminho.

É para mim obrigação grave, depois de me terem ajudado, ajudar quem quer abraçar uma nova vida. São inúmeros os estudos e os resultados de pessoas que, mudando a sua alimentação, tendo saído da sua zona de conforto (e gula), ganharam saúde e anos de vida. E melhoraram imenso a sua auto-estima. Pessoas que, como eu, não tinham gosto de se olhar ao espelho porque não gostavam do reflexo. Pessoas que ouvem sempre uma frase parva de pessoas igualmente parvas – desculpem – e desencorajadora de que estão gordas, anafadas, ou outras maneiras estúpidas de nos chamarem gordos.

Escrevo o que escrevo por ter passado isso, mas estar em pleno processo de reversão. E isso faz com que a auto-estima nos suba, que gostemos de ver as diferenças ao espelho ou mesmo comparar, por fotografia, momentos entre o antes e o depois. Ou ouvir que estamos mais magros. Em suma, todo este processo traz benefícios.

São inúmeros os exemplos de pessoas que mudaram. Inúmeros. Pessoas amigas, pessoas conhecidas, mas também figuras públicas. Recordo o Ricardo Castro. É para mim um exemplo de superação. Lembram a personagem “Tozé”, o barbeiro simpático, da série (deliciosa, aliás) Beirais? Pois façam um favor a vós mesmos e, na internet, pesquisem pelo Ricardo. Afiram como, fazendo uma alimentação Paleo (sem brincar, quando é sério é sério) e exercício, sofreu uma enorme mudança. E se eu nutria particular simpatia pelo actor, mais ganhei à pessoa. O Ricardo, actualmente, incentiva pessoas a mudar o estilo de vida. E eu tenho imenso apreço, respeito e consideração, pelas pessoas que desinteressadamente o fazem.

Mudar implica seriedade e compromisso. Por nós; pelos nossos filhos.

O fazer de conta é manifestamente insuficiente para quem pretende resultados.

Quem os quer, case… sem voyeurismo nem amantes de fim de semana.


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comentário

  1. Como sempre, claro, conciso, assertivo. Focado no essencial, no mais importante. :)

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