OpiniãoPolítica

H2: Novo Ouro no Alentejo

A crise epidemiológica que vivemos provocou (e irá provocar nos próximos meses) uma crise económica e social sem precedentes no nosso passado recente e, para a qual, novas políticas são necessárias para lhe fazer frente.

A União Europeia tem preparada nas últimas semanas uma nova Estratégia Industrial, na qual se insere um projeto que tem Sines e Portugal como parceiro estratégico: A Aliança para o Hidrogénio Limpo. Esta parceria entre vários países e companhias europeias visa criar um mercado regulado do hidrogénio que até 2030 envolverá o investimento de 430 mil milhões de euros. Mas que é exatamente o hidrogénio? No que se baseia os 7 mil milhões de euros que o ministro do Ambiente promete para o nosso distrito? E a pergunta de 1 milhão: Será mesmo assim como dizem?

O hidrogénio (H) é o primeiro elemento químico da Tabela Periódica dos Elementos e 2 átomos deste elemento formam a molécula de mesmo nome (H2). O que é realmente interessante nesta pequena partícula é o facto de poder ser utilizada como combustível (transportes e indústria) e como matéria- prima.

O facto de apenas libertar vapor de água após a sua combustão e poder ser produzida por fontes renováveis torna-a particularmente relevante para a tão necessária descarbonização da economia e diminuir os muitos milhões de euros gastos em importação de combustíveis fosseis. Fica patente o interesse nacional e europeu em produzir este gás, mas onde entra Sines e os 7 mil milhões?

Há duas grandes formas de produzir hidrogénio: Ou por eletrólise de água (converter água em H2 utilizando eletricidade) ou por conversão térmica de gás natural/metano.

A Estratégia Nacional para o Hidrogénio, que se encontra ainda em discussão publica, é clara na sua preferência pela 1° alternativa. O plano do Governo é essencialmente promover os leilões de energia solar para produzir a eletricidade renovável e a utilização de águas residuais das ETAR. Aproveitando a infraestrutura existente em Sines e a sua posição privilegiada, são utilizados esses 2 recursos para produzir o H2 que é depois bombeado na rede de gasodutos nacional ou exportado pelo porto.

Não obstante a inegável qualidade técnica do documento e de ainda ser um rascunho, um conjunto de questões se levantam: Fara sentido num país que luta constantemente com a seca, e cuja situação se agravará no futuro, investir os seus recursos hídricos na produção energética ao invés de consumo humano ou agrícola?

O lítio a utilizar nesses vastos campos de painéis solares será ambiental e socialmente sustentável? Para não falar que o hidrogénio nunca poderá ultrapassar mais de 22% de incorporação na rede de gás natural…

Mas pondo de lado essas dúvidas de onde vem o dinheiro? Infelizmente das fontes do costume: fundos europeus, subsídios estatais, algumas medidas de benefício fiscal a empresas a par de fundos para investigação. Ainda é cedo para prognósticos, mas sabemos como essas medidas, acompanhadas por burocracia e má-gestão, são lestas a atrair investimento privado e a fornecer bons resultados…

O Estado deve, no entanto, criar um quadro regulatório favorável à produção e comercialização desse combustível, com um quadro fiscal favorável, e estar aberto a outras formas de produção. Porque não investir também na conversão térmica de biogás? Os aterros e ETARs produzem metano que, após processos de limpeza, pode ser convertido em H2. Desta forma a refinaria de Sines laboraria de forma semelhante, mas com matéria-prima proveniente de resíduos.

É inegável que Sines e Portugal podem e devem ser um polo exportador de H2, mas temos de estar atentos à diversidade de opções, às novidades da Ciência e, mais importante, a que o Estado não se meta no caminho. O Programa Nacional é um bom começo, mas cá estaremos para avaliar se emboca num sucesso ou noutro embaraçoso fiasco a que o Estado nos tem habituado.


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