MontijoOpinião

2870 Montijo (2/3)

Agora que se celebraram os 35 anos da elevação da Vila de Montijo a Cidade de Montijo, é uma boa altura para reflectirmos na cidade que nos prometeram, na cidade que temos e na cidade que queremos para o futuro. Este é um artigo em três partes: Passado, Presente e Futuro. Depois do artigo dedicado ao Passado [1], abordemos agora, de forma não exaustiva, alguns temas que marcam o Presente da nossa cidade.

2. A cidade que temos

A cidade que temos é, para o bem e para o mal, o resultado das decisões tomadas e não tomadas no passado. Se muitos dos resultados destas decisões dificilmente podem ser alterados, reconhecer o que está certo e o que pode ser corrigido é o primeiro passo para emendar o que está mal e evitar erros no futuro.

Um dos mantras da governação montijense nos últimos 22 anos tem sido o mantra da cidade inclusiva, sintetizado no argumento de não autorizarem condomínios fechados [2]. Porém a mesma gestão socialista tem vindo a implementar um modelo de segregação mais subtil, mas não menos pérfido: a segregação pelo automóvel, isto é, onde a prioridade do planeamento urbano é a viatura particular.

Ao romperem com o paradigma de crescimento concêntrico da cidade e ao promoverem o crescimento da cidade de forma desconexa, com poucas ligações ao tecido urbano pré-existente, os autarcas socialistas potenciaram a esquizofrenia urbana de que sofre Montijo, oscilando entre as modernas urbanizações na periferia e a degradação extrema de grande parte do casco antigo da cidade. Isto conduziu a desequilíbrios graves, tais como:

  • O desequilíbrio a nível da mobilidade, com aposta em grandes eixos de circulação automóvel, como a inacabada circular externa; a ausência de uma rede de transportes públicos, a qual fica dificultada pelo crescimento desconexo da urbe; e a relativa ausência de ciclovias que liguem a periferia da cidade ao centro.
  • A nível demográfico, o desequilíbrio é confirmado nas palavras de um militante socialista [3] que se gaba das 18000 pessoas, ou seja, cerca de 1/3 dos habitantes do concelho de Montijo [4], que habitam na zona nova da cidade. Nesse artigo [3] o autor valida o conceito de esquizofrenia urbana, quando reconhece que a gestão socialista assistiu passivamente à degradação do centro da cidade sem que contra isso actuasse.
  • A nível do sector terciário, com a concentração do comércio em médias e grandes superfícies que, entre outros factores, contribuíram para a decadência do comércio local, acelerando a erosão do tecido urbano.

O somatório dos pontos anteriores em muito contribui para que os Montijenses vivam na cidade, mas não vivam a cidade. Desperdiçando-se os contributos dos novos habitantes para a vida colectiva da pólis. Se o plano da gestão socialista era fazer de Montijo um dormitório com jardins, então a missão foi cumprida.

No presente é inevitável falar da “espada de Dâmocles” que pende sobre Montijo: a construção ou não do novo terminal aeroportuário na Base Aérea 6. Esperando, quiçá, uma alteração da configuração autárquica na Moita e no Seixal nas próximas eleições, a Vinci, empresa que gere a concessionária dos aeroportos (ANA), pouco ou nada avançou desde o início do ano. A demora em tomar uma decisão definitiva, associada à colagem do programa eleitoral do PS de 2017 ao nunca visto caderno de encargos da ANA, adiou a realização de projectos importantes por mais quatro anos. O presente é um Montijo, mais uma vez, adiado.

Agora, e enquanto há tempo, há que exigir que se conheça em detalhe o famigerado caderno de encargos da ANA, para que seja debatido e eventualmente renegociado. Ao nível do planeamento, não será despiciendo preparar as respostas à seguinte pergunta: E se o aeroporto não vier para a Base Aérea 6?

Há dois temas que, em caso de boa governação, não seriam notícia: o abastecimento de água e a higiene urbana. Contudo, em Montijo, são ainda actuais.

No caso abastecimento de água, mais do que os episódios (tristemente frequentes) de água multicolorida nas torneiras dos munícipes, saliente-se uma gestão que, em 2019 deixa por facturar 41,9% da água [5], onerando assim aqueles que pagam a factura da água. Compare-se Montijo com o município vizinho de Alcochete que, no mesmo período, apresentava 33,6% de água não facturada, ou Cascais com apenas 11,4%. Isto mostra que ainda há muito trabalho a fazer e que só por incapacidade não foi feito nos últimos 20 anos.

É triste constatar que no século XXI a higiene urbana é outro assunto ainda por resolver. Frequentes episódios de contentores a abarrotar e de ruas sujas, contrastam com a cidade asseada que muitos conheceram, mas já não reconhecem. Estes episódios são sintomas de um problema que tem de ser enfrentado. A cidade cresceu e os serviços de higiene urbana (entre outros) não acompanharam esse crescimento. Se o cobertor é pequeno, é natural que os pés fiquem destapados quando se tapa a cabeça. Se os serviços não conseguem dar resposta a uma cidade crescente, seria uma boa ideia sensibilizar a população para o problema da higiene urbana e motivá-la a fazer parte da solução, nomeadamente reduzindo o lixo produzido. Porém, pouco ou nada foi feito nesse sentido. A ausência de fiscalização e aplicação da lei que permita detectar e punir os incumpridores é outro ponto que precisa de ser melhorado. São três pontos fulcrais que, no presente, testemunham a inércia e inacção de um executivo exaurido de ideias.

Referências

[1] Rui Aleixo, 2870 Montijo (1/3). Diário do Distrito, 29 de Agosto de 2020. Disponível em: https://diariodistrito.sapo.pt/2870-montijo-1-3/. Consultado em 12 de Setembro de 2020.

[2] Ricardo Bernardes, Somos todos Montijo, Jornal O Setubalense, 13/07/2017. Disponível em https://www.osetubalense.com/opiniao/2017/07/13/somos-todos-montijo/. Consultado em 12 de Setembro de 2020.

[3] José Bastos, Os jovens procuram o Montijo para comprar casa, Diário do Distrito, 28 de Março de 2020. Disponível em: https://diariodistrito.sapo.pt/os-jovens-procuram-o-montijo-para-comprar-casa/. Consultado em 12 de Setembro de 2020.

[4] Montijo em números – Distribuição da população. Disponível em https://www.mun-montijo.pt/pages/913.  Consultado em 12 de Setembro de 2020.

[5] ERSAR, RELATÓRIO ANUAL DOS SERVIÇOS DE ÁGUAS E RESÍDUOS EM PORTUGAL Volume 1, 2019. Disponível em http://www.ersar.pt/pt/site-publicacoes/Paginas/edicoes-anuais-do-RASARP.aspx. Consultado em 12 de Setembro de 2020.

Errata:

No artigo publicado em 29 de Agosto de 2020 [1] onde se lê:

“Um jovem que em 2005 tivesse 15 anos e que poderia ter sido motivada” deve ler-se “Um jovem que em 2005 tivesse 15 anos e que poderia ter sido motivado”

“do seu camarada José Sócrates” deve ler-se “do seu camarada José Sócrates,”


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